Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia, diz acreditar que o Brasil, como um país democrático, tem poucas afinidades com a Rússia, com o Irã ou com a Coreia do Norte, que em algum momento tentaram negociar um final diplomático para o conflito que opõe os russos àquele pais do Leste Europeu.
O governante ucraniano ainda criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por demonstrar proximidade com o Kremlin. A crítica está em entrevista que ele deu em agosto, em Kiev, ao apresentador da TV Globo Luciano Huck. O encontro está entre os melhores momentos de um documentário lançado pela Globoplay e intitulado “Huck e Zelensky – Não Está Tudo Bem”.
A frase foi pronunciada pelo próprio presidente quando Huck lhe perguntou se ele poderia dar notícias que tranquilizassem sua família no Brasil. A cidade de Kiev havia sido bombardeada por duas centenas de mísseis e drones que mataram sete civis.
Era madrugada quando os alarmes foram acionados. A equipe da Globo se refugiou no segundo subsolo do hotel. Os hóspedes, instruídos pela recepção, baixavam em seus celulares os aplicativos que acionavam outros alarmes quando da possibilidade de bombardeios.
Horas depois o temor das bombas inimigas também se materializava no interior do palácio presidencial, onde as janelas do andar térreo estavam bloqueadas por sacos de areia, e nenhuma iluminação clareava o ambiente.
Huck disse a Zelenski ter com ele, como afinidade, o fato de ser também judeu, tema que o presidente ucraniano de imediato minimizou. O apego ao país e sua defesa diante de uma agressão estrangeira, afirmou, independe da religião do cidadão ou do militar ucraniano. Disse ainda que só a leviandade de Vladimir Putin, o presidente da Rússia, o faria a chamar os nacionalistas ucranianos de nazistas.
Em verdade, e o documentário não explica, na Ucrânia dos tempos soviéticos, ser judeu era ter uma nacionalidade diferente. Não era bem a mesma coisa que ser ucraniano. Era por essa válvula verbal que saia parte do antissemitismo.
Em outro momento Zelenski disse que a superação da ideologia racista e de extrema direita exigiu um esforço coletivo e demorado dos alemães, hoje alinhados à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia.
São ucranianos três dos quatro avós de Luciano Huck, que visitou a cidadezinha de Brodi, de onde vem a família de seu lado materno. Ele se comoveu ao reconhecer as ruínas de uma sinagoga e ao se referir ao cemitério judaico com 3.000 sepulturas, algumas delas de seus tios-avós que os nazistas exterminaram. Uma parte desses familiares emigrou antes da guerra ao Uruguai, e é por isso que sobreviveu o ramo ao qual o apresentador pertence.
Ele também havia gravado no Brasil, e mostrou a Zelenski, a mensagem de uma jovem ucraniana hoje moradora do Paraná. Ao ouvir sua mensagem, o presidente disse a ela que faria de tudo para que ela um dia voltasse à Ucrânia, não a algum território ocupado militarmente pelos russos.
No centro de Kiev, o documentário mostrou milhares de bandeiras fincadas no chão, uma para cada militar ou voluntário que morreu desde 2022 no conflito. Havia um cantinho reservado a bandeiras brasileiras.