Não à guerra, sim à diplomacia. Foi esse o recado que o líder da China, Xi Jinping, deu aos empresários americanos com quem jantou na noite de quarta-feira (15) em um evento em San Francisco, na Califórnia, realizado às margens do encontro anual da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico).
No discurso, Xi disse que Pequim “não aposta contra os EUA” e “não tem intenção de desafiá-los ou derrubá-los”. “Não estamos buscando esferas de influência, e não travaremos uma guerra, fria ou quente, com ninguém.”
Horas antes, ele e o presidente Joe Biden tinham anunciado a restauração da comunicação militar entre os seus países, uma iniciativa de combate à crise do fentanil, e inaugurado um diálogo bilateral sobre IA (inteligência artificial), naquela que Biden descreveu como uma das “discussões mais construtivas e produtivas” que os dois já tiveram.
A reunião, a primeira entre os líderes em um ano, ocorre após uma escalada de tensões inaugurada pela visita de Nancy Pelosi, então presidente da Câmara dos EUA, a Taiwan em agosto do ano passado —ela foi a mais importante autoridade americana a visitar a ilha, que a China reivindica como parte inalienável de seu território, em 25 anos.
De lá para cá, as duas potências enfrentaram a chamada “crise dos balões”, com os EUA acusando a China de espionar seu território, o que Pequim nega; envolveram-se em disputas militares crescentes no Sudeste Asiático; e acirraram sua competição tecnológica.
Agora, no entanto, é tempo de “aprofundar os laços de amizade entre os dois povos”, disse Xi durante o evento em San Francisco. E os “emissários da amizade” serão, ainda nas palavras dele, os pandas gigantes do país.
A China tem monopólio sobre a espécie, nativa das suas florestas de bambu, e usa os ursos em uma estratégia de soft power conhecida como “diplomacia dos pandas”. A prática começou nos anos 1950, com o envio dos animais a aliados como presentes. Três décadas depois, o país mudou de estratégia, e passou a emprestar os pandas em vez de cedê-los, firmando contratos de aluguel com zoológicos locais.
Washington recebeu o seu primeiro exemplar em 1972, um símbolo da aproximação do país com Pequim após a visita histórica do presidente Richard Nixon à nação asiática naquele mesmo ano. Nos últimos anos, porém, os ursos foram sendo convocados de volta à sua terra natal em levas —acompanhando a guinada de eixo da política externa chinesa, que se afastou dos EUA e de outros países do Ocidente para se aproximar do chamado “Sul Global”, as nações emergentes.
Na semana passada, três pandas do Zoológico de Washington, Mei Xiang, Tian Tian e Xiao Qi Ji, foram enviados de volta para a China após um megaevento batizado de Panda Palooza e semanas de despedidas lacrimosas por parte dos americanos. Antes, em abril, Memphis havia devolvido uma ursa à nação asiática, e em 2019, San Diego repatriou o casal da espécie que vivia em seu zoológico.
Com isso, restam apenas quatro pandas nos EUA, todos em Atlanta. Mas não por muito tempo, já que os dois filhotes devem partir no começo de 2024, e seus pais, até o final do mesmo ano, quando expira o acordo firmado pelo zoológico local.
O governo americano expressou animação diante da possibilidade de receber novos ursos. Nesta quinta-feira, um dia depois das declarações de Xi, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que, caso esta venha a ser a decisão de Pequim, “nós receberíamos o panda com todo o prazer”.
Ainda não se sabe se a proposta se concretizará. Em seu discurso, no entanto, o líder chinês deu uma pista do local para onde os animais seriam enviados. Não à toa, no mesmo estado em que ele discursava, a Califórnia. “Soube que o Zoológico de San Diego e os californianos estão ansiosos para receber os pandas de volta”, disse, de acordo com relato da rede americana NBC News.