Jovem, carismático, não branco e com um nome esquisito. Há 20 anos, assim era descrito Barack Obama. Outsider, midiático, conservador controverso. Há 10 anos, este era Donald Trump.
De algum modo, o pré-candidato republicano à Presidência americana Vivek Ramaswamy, 38, conseguiu –muito conscientemente– juntar esses dois extremos em uma só persona.
O filho de imigrantes indianos conseguiu chamar a atenção no primeiro debate das primárias do partido, na última quarta-feira (23). No Google, seu nome o foi mais buscado durante o programa. No X, ex-Twitter, Elon Musk descreveu a performance como “impressionante”.
Negar o aquecimento global, defender que existem apenas dois gêneros e dizer que existe uma crise de famílias sem pais porque o governo paga benefícios a mães solteiras foram alguns dos seus pontos altos no embate –além de entrar em vários confrontos acalorados com seus colegas de palco.
Para analistas, Ramaswamy foi quem melhor encarnou Trump, na ausência do ex-presidente.
Desde janeiro, o pré-candidato foi de virtualmente zero a 9,9% das intenções de voto nas primárias, segundo o agregador de pesquisas do FiveThirtyEight. Isso o coloca em terceiro lugar na disputa, à frente do ex-vice-presidente Mike Pence (4,1%) e não muito atrás do governador da Flórida, Ron DeSantis (14,7%).
Embora a preferência por Trump (52%) supere com folga o apoio a todos eles, os quatro processos criminais nas costas do magnata colocam em dúvida sua viabilidade eleitoral, pensando na disputa nacional, e mesmo legal –ninguém ainda sabe muito bem o que acontece se ele for condenado e eleito.
Mas e se fosse possível enfrentar o democrata (e visivelmente envelhecido) Joe Biden com uma versão millennial e sem ficha na polícia?
Ramaswamy começou a ganhar projeção nos últimos dois anos criticando a adesão de empresas a causas sociais e políticas. Em 2021, ele lançou o best-seller “Woke, Inc.: Por Dentro do Golpe de Justiça Social da América Corporativa”.
Ele defende que empresas não devem abraçar bandeiras como diversidade e proteção do meio ambiente porque não cabe a elas fazer o julgamento moral necessário para definir quais valores sociais devem ser perseguidos. Essa tarefa, argumenta, deve ser desempenhada apenas por representantes democraticamente eleitos. Aos negócios cabe fazer dinheiro. E ponto.
Como empresário, ele teria se negado, por exemplo, a divulgar um posicionamento sobre o assassinato de George Floyd, que desencadeou uma onda protestos antirracistas nos Estados Unidos e mundo afora.
O ativismo antiativista vem pelo menos desde a época da faculdade. Quando estudava biologia em Harvard, Ramaswamy publicou um artigo no Crimson, o jornal universitário, contra uma campanha estudantil que exigia aumento de salário dos funcionários da instituição, como faxineiros e zeladores. Em argumentação tortuosa, ele afirmou que o reajuste reduziria o respeito da comunidade por essas pessoas.
Mas a fama do aluno na faculdade foi além de seus artigos de opinião: ele também era rapper. Sob o alter-ego de “Da Vek”, ele cantava versos libertários e covers de Eminem.
Os pais de Ramaswamy migraram da Índia para Ohio, no centro-este do país, onde Ramaswamy nasceu e foi criado. O pai trabalhou como engenheiro na General Electric e a mãe, como psiquiatra geriátrica.
Ele atribui a origem de seu pensamento conservador a uma professora de piano que teve nessa época. Segundo Ramaswamy, foi ela quem lhe apresentou as ideias de Ronald Reagan. Além da música e de Reagan, seu grande interesse nessa época foi o tênis –ele chegou a entrar no ranking nacional do esporte.
Depois de Harvard, Ramaswamy trabalhou alguns anos em uma gestora de investimentos e, ao mesmo tempo, graduou-se em direito em Yale. O grande passo da sua carreira, no entanto, veio com a fundação de uma empresa de biotecnologia chamada Roivant, em 2014.
Ao perceber que muitas farmacêuticas suspendiam o desenvolvimento de novos medicamentos devido a dificuldades burocráticas ou por perda de interesse comercial, ele criou um negócio para adquirir esses produtos, terminar a certificação e, ao final, dividir parte dos lucros com os criadores da ideia.
Uma dessas drogas foi um remédio contra o mal de Alzheimer. Em 2016, a Axovant, subsidiária da Roivant encarregada de terminar seu desenvolvimento, conseguiu o que até então era a maior abertura de capital de uma biotech da história –o investimento, porém, acabou se revelando um fracasso, porque o medicamento não passou da fase de testes.
A empresa, no entanto, foi bem-sucedida em outras empreitadas, o que rendeu a Ramaswamy uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 630 milhões (mais de R$ 3 bilhões, na cotação atual).
Hoje, ele não faz mais parte do quadro da Roivant –que destaca em seu mais recente relatório anual “cultivar diversidade e inclusão” por meio de grupos de funcionários de mulheres, pessoas LGBTQIA+ e negros, indígenas e não brancos.
No ano passado, Ramaswamy fundou uma gestora de ativos cuja proposta é investir “em excelência”, sem quaisquer outras preocupações. Apesar da promessa, alguns dos fundos da Strive são claramente uma posição política: o código do ETF voltado para energia é DRLL (“drill”, em inglês, significa “perfurar”, em alusão à exploração de petróleo).
Outro fundo da gestora é voltado para mercados emergentes, menos a China. O Brasil está na lista, com 7,9% de participação. Petrobras, Vale, Ambev e Banco do Brasil estão entre as empresas no portfólio.
Ramaswamy se guia por uma espécie de dez mandamentos: “Deus é real”, “existem apenas dois gêneros” e “desenvolvimento da humanidade demanda combustíveis fósseis” são os três primeiros.
Se eleito presidente, ele promete acabar com ações afirmativas, com o Departamento de Educação, com o FBI e com a Receita Federal; promete ainda banir o uso de rede sociais viciantes para menores de 16 anos, “abandonar a seita do clima” e investir em energia nuclear e proibir empresas americanas de se expandirem para a China até o país asiático “parar de trapacear”.
“Eu me considero um contrariador. Gosto de discutir”, disse Ramaswamy, quando estudante, ao Crimson.