A francesa Anne, de 63 anos, foi vítima da chamada submissão química. Quando criança, ela foi dopada e estuprada por seu próprio pai e outros homens durante anos.
“Você se sente constantemente em perigo, como se estivesse enlouquecendo”, conta Anne. “Para uma criança, sua família é seu mundo. Sempre achei que fosse minha culpa. Achava que eu merecia. Diversas vezes tentei tirar minha própria vida.” Anne se sentiu motivada pela força de Gisèle Pelicot, cujo caso chocou a França.
Pelicot exigiu que vídeos dela sendo estuprada por dezenas de homens e pelo marido, que a dopava, fossem exibidos no tribunal. Ela enfatiza a importância de falar publicamente sobre o que aconteceu. “Ela é tão corajosa de se submeter a um julgamento aberto, que é raro em casos assim. O constrangimento, afinal, não é dela, mas dos estupradores”, aponta.
O caso Pelicot levou o governo francês a criar uma comissão parlamentar sobre submissão química, a fim de propor emendas à lei. Anne não teve coragem de denunciar o pai por décadas. Agora, ela espera que seja abolido o prazo de 20 anos para denúncias de estupro na França, para poder abrir uma ação judicial contra ele. “Espero que meu pai esteja com medo. Quero que ele veja que os tempos estão mudando.”