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Vídeo: Monastério resiste no meio da Guerra da Ucrânia – 12/11/2024 – Mundo

Nikolske, cidadezinha no meio da linha de frente entre a Rússia e a Ucrânia em Donetsk desde o início da guerra em 2022, é um lugar deserto, no qual o único som constante no fim de outubro era o da artilharia de Vladimir Putin.

Entre casas e edifícios governamentais arruinados, com uma miríade de bombas de fragmentação e minas antipessoais espalhadas por seu terreno, o local chama a atenção devido à resiliência de um grupo de monges ortodoxos russos que se recusaram a deixar a região.

Eles eram 200 antes da guerra, assim como a cidade tinha 7.800 pessoas e se chamava Mikilske, seu nome ucraniano. Agora, não há mais habitantes, mas 50 monges e algumas freiras que os acompanham tentando guardar o que sobrou do complexo do monastério de São Nicolau e São Basílio.

O local está arruinado e suas premissas paradoxalmente exprimem paz enquanto estão lotadas de explosivos no solo. Mas o avanço da Rússia nos últimos meses acabou por facilitar o acesso de pessoas de fora, inclusive de voluntários como Pavel Popov, que mantêm o local com comida e água.

Há a igreja principal, cujas cúpulas douradas foram atingidas, assim como as paredes. Para o visitante que entra, a imagem da nave central é chocante: caixões de madeira enfileirados, alguns com pás dentro, estocados no local menos úmido do complexo.

“Esses são novos, não precisamos usar ainda”, disse à Folha o padre Inocêncio, um homem de talvez 40 anos com a usual longa barba negra que marca os sacerdotes ortodoxos. Ele diz que o principal trabalho nos quase três anos da guerra foi o de, além de proteger refugiados dos combates, recolher o que fosse possível de outras igrejas da região.

Tudo está na cripta da igreja principal, onde ícones, caixas e tapetes enrolados formam um estranho mosaico. Uma efígie de Cristo crucificado traz um buraco de bala, enquanto um monge estuda textos religiosos e uma freira faz chá para as visitas.

Nos arredores, placas improvisadas, com uma caveira quase infantil e a palavra “minas”, alertam para ninguém pisar nos canteiros. “Há um mês, não podíamos vir aqui, tamanha era a artilharia ucraniana”, disse o soldado de codinome Iuri, que organizou a visita.

No chão, restos de explosões de morteiros, o primeiro estágio de um foguete de artilharia Grad enfiado no solo e até uma granada polonesa enterrada numa árvore.

O monastério em si é recente, tendo sido consagrado pelo patriarca Cirilo, aliado de Putin demonizado na Ucrânia, em 2009. No local havia a Catedral da Dormição de Nossa Senhora, obra pré-comunismo, que foi destruída num bombardeio em setembro de 2022.

A fé ortodoxa é central na linha de frente, assim como na Ucrânia. Está na moda batizar batalhões com nome de santos guerreiros ortodoxos russos, como Dmitri Donskoi (1350-1389), que nomeia uma unidade com 430 homens em Donetsk.

Em uma das casas particulares que ocupa, seus integrantes montaram uma pequena igreja, com cartazes com imagens sacras se misturando à foto de Putin com os dizeres: “Presidente forte, Rússia forte”. A associação entre a igreja e Putin levou Kiev a banir na prática a organização, que já havia sido objeto de um cisma em 2019.

Em conversas, os militares soam bem pouco políticos. Quase todos são da região, que dizem defender. O comandante de codinome Vladimir, ouvido pela reportagem, corrobora isso: “As pessoas lutam para sobreviver, e isso as tornou melhores soldados”.

Além de Deus, outro símbolo une soldados, voluntários e civis simpáticos à causa russa: o Tcheburachka, personagem orelhudo de um desenho soviético dos anos 1960. Ele adorna veículos, tanto militares quanto a SUV de Popov. Até aqui, são bem mais visíveis do que os supostos norte-coreanos enviados por Kim Jong-un.

Fonte: Folha de São Paulo

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