Membro da equipe técnica eleitoral da oposição da Venezuela, Gustavo Silva está em Brasília nesta terça-feira (26) para se reunir com senadores e deputados, em peregrinação que já passou por Chile e Argentina e deve seguir para outros países nos próximos dias.
Silva participa ainda de uma entrevista coletiva ao lado da senadora Tereza Cristina (PP-MS) no Senado, e fica na capital federal até esta quarta-feira (27). Ele não confirmou se irá se reunir com integrantes do Executivo.
“Neste momento em que a democracia está em risco, frágil em todo continente, deixar passar a página da Venezuela não é uma opção”, afirma ele à Folha.
De posse de amostras das atas eleitorais reunidas pela oposição e de um relatório que, segundo ele, explica porque os cerca de 85% dos documentos justificam a vitória de Edmundo González na eleição presidencial, ocorrida em julho, Silva busca apoio de países, principalmente latino-americanos, para reconhecerem González como presidente eleito do país em vez de Nicolás Maduro.
Maduro se declarou vitorioso dias após o pleito, embora a oposição diga, com base nas atas reunidas, que González é quem deve assumir no dia 10 de janeiro, dia da posse do novo líder. Em entrevista à imprensa da Espanha, onde vive exilado, González afirmou que está “moralmente preparado” para eventual detenção quando retornar a Caracas para tentar assumir o cargo.
“Venho simplesmente compartilhar a transparência. Há gente que ainda diz que a situação na Venezuela não é clara porque o resultado não foi claro. O painel de especialistas da ONU diz que o resultado divulgado pelo Conselho Eleitoral na Venezuela foi oral e sem suporte técnico”, diz Silva.
“Nós temos um resultado que não é da María Corina Machado ou do Edmundo González, é o resultado do Conselho Eleitoral, que está registrado nas atas que recebemos e estamos compartilhando com todos”, acrescenta.
A divulgação do restante das atas pelo regime Maduro é a principal demanda da oposição e de outros países da região e fora dela —dos Estados Unidos, que reconhecem González como presidente eleito, ao Brasil, que não reconhece nem González nem Maduro como vencedores do pleito. A ditadura ainda não fez essa divulgação.
“Os 15% restantes [das atas] a que não tivemos acesso foram porque o governo deu a ordem aos militares e funcionários eleitorais a não nos entregarem os documentos”, diz Silva.
Na Venezuela, testemunhas inscritas no Conselho Nacional Eleitoral (CNE) acompanham a votação em seções eleitorais e têm acesso às atas daquelas seções após o fechamento das urnas —são gerados boletins que ficam em posse do Estado e outros, iguais, em posse das testemunhas. São esses os documentos que a oposição diz possuir e que representam 85% das atas totais do país.
Em relatório técnico que Silva apresenta a parlamentares nesta terça, as amostras e estimativas de votações apresentadas a partir dos 85% das atas indicam que, mesmo que Maduro recebesse 100% dos votos nos 15% restantes, ele não alcançaria os votos que González recebeu de acordo com os documentos de posse da oposição —daí a defesa de que o opositor é o vencedor do pleito mesmo sem a plena divulgação.
“Edmundo González ganhou em toda demografia do país, não só em todos os estados. Nos municípios com pobreza extrema, González ganhou, nas zonas rurais, ganhou na maioria das zonas urbanas, em zonas com pobreza moderada também venceu. É um trunfo transversal”, afirma.
Silva agradeceu ao Brasil por estar “do lado da democracia”, mencionando também parte da equipe de María Corina Machado asilada na embaixada argentina em Caracas, que está sob os cuidados do governo brasileiro.
Na noite desta segunda, Pedro Urruchurtu Noselli, um dos asilados na embaixada, publicou em sua conta no X que a luz da embaixada havia sido novamente cortada e que agentes de segurança mantinham o que ele chamou de assédio do lado de fora do local.
No sábado (23), o ministério das Relações Exteriores da Argentina denunciou “atos de assédio e intimidação” contra sua embaixada e exigiu que a Venezuela emita “os salvo-condutos necessários” para que os opositores refugiados na sede diplomática possam deixar o país.
O ministro do Interior, Diosdado Cabello, nega o cerco à embaixada da Argentina em Caracas.