O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (16) que o atual regime de Nicolás Maduro na Venezuela não configura uma ditadura, e sim um regime “desagradável” e com “viés autoritário”.
Após sugerir novas eleições para resolver a crise ou mesmo um governo de coalizão, Lula agora afirma que prefere esperar a decisão da justiça venezuelana sobre o resultado das eleições.
O presidente também disse discordar da nota de seu partido, o PT, que reconheceu a vitória de Maduro no pleito realizado no fim de julho.
As declarações foram feitas em entrevista à Rádio Gaúcha, durante viagem de Lula ao Rio Grande do Sul para inaugurações e lançamento de medidas. Questionado se considerava o regime venezuelano uma ditadura, ele respondeu achar “que a Venezuela vive um regime muito desagradável”.
“Não acho que é uma ditadura. É diferente de ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como conhecemos em vários países do mundo”, afirmou o presidente.
A Venezuela vive uma grave crise, que se instalou após as eleições presidenciais de julho deste ano. O ditador Nicolás Maduro foi proclamado reeleito pouco depois do pleito, mas o resultado é amplamente questionado pela oposição e por alguns líderes regionais.
A oposição tem divulgado que vai empossar o candidato Edmundo González, em janeiro do próximo ano. A oposição venezuelana afirma que venceu as eleições com base no que afirmam ser as atas eleitorais de cerca de 80% das mesas de votação do país. Com esses documentos em mãos, que foram publicados online, a aliança antichavista diz que González teve 67% dos votos contra 30% de Maduro.
O Brasil e outros países têm pressionado o regime Maduro para que divulgue as atas que comprovariam a lisura do pleito. As autoridades venezuelanas ainda não deram transparência a esses documentos até o presente momento.
Nesta quinta-feira (15), Lula havia afirmado pela primeira vez que não reconhecia a vitória de Maduro e sugeriu novas eleições ou um governo de coalizão como saídas para a crise no país vizinho.
No entanto, a proposta enfrentou resistência tanto de Maduro como da oposição venezuelana, que não aceitam um novo pleito.
Por um momento, houve a indicação de que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apoiaria a realização de uma nova eleição na Venezuela. Ao ser questionado por jornalistas, nesta quinta, se apoiava a ideia, respondeu “sim, eu apoio”.
No entanto, um porta-voz da Casa Branca amenizou posteriormente a declaração, dizendo que Biden se referia “ao absurdo de que Maduro e seus aliados não tenham sido honestos sobre as eleições”. Houve rumores de que o presidente não teria ouvido ou entendido a pergunta, mas não há nenhum posicionamento da Casa Branca nesse sentido.
O presidente brasileiro afirmou que não vê risco de uma guerra civil na Venezuela, porque há países vizinhos que atuam para buscar uma solução para a crise. Sobre o impasse referente às novas eleições, afirmou que agora será preciso esperar a decisão da Suprema Corte do país.
“Não acredito numa guerra civil na Venezuela. Não acredito porque acho que há muitos países com disposição de ajudar para que a gente viva em paz na América do Sul. A guerra não leva à nada. Só leva à destruição. A paz leva ao crescimento econômico, distribuição de riqueza. É isso que eu espero para a Venezuela. É isso que eu torço para a Venezuela. E vamos esperar porque agora tem uma Suprema Corte que está com os papeis para decidir. Vamos esperar qual será a decisão disso”, afirmou o mandatário.
Lula também foi questionado sobre a nota do PT que reconheceu a vitória de Nicolás Maduro nas eleições.
“Eu não concordo com a nota. Eu não penso igual à nota. Mas eu não sou da direção do PT. O problema da Venezuela será resolvido pela Venezuela”, afirmou o presidente.