O governo Luiz Inácio Lula da Slva (PT) permanece como um dos únicos atores relevantes na região a ainda não ter se manifestado sobre as eleições na Venezuela deste domingo (28). O CNE (Conselho Nacional Eleitoral) anunciou na madrugada desta segunda-feira (29) que Nicolás Maduro venceu o pleito, mas os números foram contestados pela oposição, que denuncia fraude.
Até a manhã desta segunda (29), Lula e o Itamaraty ainda não tinham se manifestado oficialmente sobre o pleito.
A postura contrasta com a de outros líderes da região. Alguns ecoaram as denúncias da oposição sobre irregularidades no pleito. Outros fizeram um chamado por transparência. Aliados do chavismo, por sua vez, parabenizaram Maduro.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, expressou “grave preocupação” com a possibilidade de o resultado não refletir a vontade da população e pediu uma apuração “justa e transparente”.
Outros líderes de esquerda na região, como Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia), também demonstram cautela. Enquanto o chileno falou que os resultados eram “difíceis de acreditar”, o chanceler colombiano, Luis Gilberto Murillo, pediu a “contagem total dos votos”.
O presidente a Argentina, Javier Milei, afirmou por sua vez que a oposição obteve uma vitória acachapante na Venezuela e chamou Maduro de ditador.
Já o ditador Nicarágua, Daniel Ortega, o líder de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e a presidente de Honduras, Xiomara Castro, parabenizaram Maduro, assim como os representantes da China e da Rússia, que mantêm laços estreitos com o país latino-americano.
As eleições venezuelanas ocorreram no domingo. O pleito foi disputado entre o ditador Maduro e o diplomata Edmundo González, apoiado pela principal líder opositora no país, María Corina Machado.
Foram meses de tensão, num pleito marcado pela inabilitação de opositores —a própria María Corina foi impedida de concorrer— e pela perseguição a adversários do chavismo.
O governo Lula é aliado histórico do regime chavista, mas a relação nos meses que antecederam o pleito foram estremecidas. Depois de reabilitar Maduro ao recebê-lo com honras de chefes de Estado em maio de 2023, Lula mudou o tom um ano depois.
Em março, o governo criticou pela primeira vez o bloqueio à candidatura da Corina Yoris, nome que tinha sido escolhido pela principal força de oposição no país. Yoris, também indicada por María Corina, não foi autorizada a disputar e deu lugar a González.
O presidente brasileiro ainda conversou por telefone com Maduro em junho, pouco depois de o chavismo ter revogado um convite à União Europeia para que o bloco enviasse uma missão de observação eleitoral. Na ocasião, Lula reiterou a importância de o pleito contar com ampla presença de observadores internacionais
Dias antes da votação, Lula ainda reagiu à fala de Maduro de que poderia haver “um banho de sangue” caso ele fosse derrotado.
“Quem perde as eleições toma um banho de votos, não de sangue. Maduro tem de aprender: quando você ganha, você fica. Quando você perde, vai embora e se prepara para disputar outra eleição”, afirmou o brasileiro, em 22 de julho.
Maduro ironizou o petista. “Quem se assustou que tome um chá de camomila”, disse.
O último capítulo das tensões ocorreu depois que Maduro disse que os sistemas eleitorais de Brasil, Estados Unidos e Colômbia não eram auditados. Diante disso, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cancelou o envio de uma missão eleitoral da corte que iria ao país acompanhar o pleito.
Lula enviou seu assessor para assuntos internacionais, embaixador Celso Amorim, para acompanhar a votação no país. Amorim passou as últimas horas reunindo-se com autoridades do oficialismo e com representantes da oposição.