O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou neste domingo (21) que não vai mais concorrer à reeleição, cedendo à pressão de seu partido e da imprensa americana, que consideravam que problemas a respeito da sua idade avançada o impediriam de ser um candidato eficaz contra Donald Trump.
Assim, Biden se tornou apenas o sétimo presidente da história dos EUA a não concorrer à reeleição quando tinha essa possibilidade —em três dos outros seis casos, o presidente era um vice que assumiu depois da morte do antecessor, venceu as eleições seguintes, e escolheu não concorrer novamente.
A última vez que um ocupante da Casa Branca evitou buscar a reeleição foi em 1968, quando Lyndon Johnson, que chegou ao poder após a morte de John F. Kennedy e foi eleito para um mandato completo em 1964, anunciou que não buscaria um novo período no cargo.
Johnson, um dos presidentes mais polêmicos da história dos EUA, foi responsável por aprovar a lei dos direitos civis que acabou com a segregação racial no país, mas também ampliou a participação dos americanos na Guerra do Vietnã e era presidente quando Washington apoiou o golpe militar no Brasil em abril de 1964.
Em 1968, a popularidade de Johnson estava em queda livre entre a esquerda graças às mortes de soldados americanos no Vietnã e entre a direita por conta das derrotas militares naquele país (uma ofensiva norte-vietnamita em janeiro convenceu muitos americanos de que a guerra estava perdida) e dos protestos contra a campanha militar.
Nesse contexto, Johnson enfrentou nas primárias do Partido Democrata o pacifista Eugene McCarthy e quase foi derrotado no estado de New Hampshire. O resultado, impensável para um presidente em exercício, somado à baixa popularidade de Johnson e a problemas de saúde convenceram o democrata a retirar sua candidatura em 31 de março de 1968. Ele morreria de problemas cardíacos cinco anos depois.
Antes dele, o presidente Harry Truman escolheu não concorrer em 1952, por motivos bastante parecidos aos de Johnson: sua saúde, idade (Truman tinha 68 anos) e baixa popularidade por conta do envolvimento americano na Guerra da Coreia.
A diferença é que Truman já estava no poder havia oito anos, tendo chegado à Casa Branca após a morte de Franklin Roosevelt, que governou de 1933 a 1945 —na época, não havia limite para a reeleição, criado em 1951.
A presidência de Truman é relembrada pelo fim da Segunda Guerra Mundial e pela decisão, tomada por ele, de usar as duas bombas atômicas contra Nagasaki e Hiroshima; e pelo início da Guerra Fria e a escalada de tensões entre os EUA e a União Soviética, incluindo a criação da Otan e a guerra na península coreana.
Em 1928, o presidente Calvin Coolidge também anunciou que não tentaria a reeleição. Coolidge se tornou presidente em 1923 após a morte de Warren Harding, que sofreu uma hemorragia no cérebro e faleceu no cargo. Na época, o presidente era desconhecido por grande parte do país, tendo sido um vice discreto durante os anos de Harding no poder, e se esperava que o Partido Republicano escolhesse outro candidato para representar a sigla em 1924.
Entretanto, Coolidge ganhou popularidade com medidas anti-corrupção e a articulação de uma lei anti-imigração, cujo objetivo era restringir a vinda principalmente de italianos, poloneses e outras nacionalidades do sul e do leste da Europa para os EUA.
Tendo vencido as eleições seguintes, em 1924, Coolidge governou com ênfase em políticas liberalizantes e era contra o envolvimento do Estado na economia, atuando, por exemplo, para barrar uma lei que teria aumentado o preço pago pelo governo a agricultores por determinadas colheitas. Também foi o primeiro presidente dos EUA a discursar pelo rádio.
Por conta da sua popularidade, e pelo caos pelo qual passava o Partido Democrata, dividido entre sulistas e nortistas, esperava-se que Coolidge vencesse com facilidade a reeleição em 1928. Entretanto, o presidente se recusou a concorrer novamente, dizendo apenas que achava que não tinha capacidade de enfrentar as dificuldades do cargo por mais quatro anos. Ele tinha 56 anos de idade.
Seu sucessor, Herbert Hoover, manteve as políticas não-intervencionistas de Coolidge, razão pela qual o Partido Republicano ficou fortemente associado às consequências da Grande Depressão de 1929. Com a derrota de Hoover em uma lavada para Franklin Roosevelt em 1932, a sigla só voltaria ao poder com Dwight Eisenhower, em 1953.
Os outros três presidentes que se recusaram a concorrer pertencem todos ao século 19. Rutherford Hayes esteve no poder de 1887 a 1881 e foi responsável pelo fim da ocupação militar do sul dos EUA após a Guerra Civil, uma decisão que abriu caminho para a instituição da segregação racial nesses estados. Hayes havia feito uma promessa de campanha de que não concorreria novamente.
James Buchanan ocupou a Casa Branca de 1857 a 1861, um período em que as tensões sobre a escravidão estavam no seu auge —a Guerra Civil começaria em abril de 1861. Apoiador da escravidão e profundamente impopular, Buchanan optou por não concorrer, abrindo caminho para a vitória de Abraham Lincoln.
Por fim, James Polk, no poder de 1845 a 1849, também cumpriu uma promessa de mandato e não buscou a reeleição. Ele foi responsável pela maior expansão territorial dos EUA, com a captura de diversos estados do México e a negociação com o Reino Unido para a aquisição de estados no que hoje é o noroeste do país.