O Vaticano anunciou nesta quarta-feira (31) a consagração de um novo bispo na China, o terceiro em uma semana, em mais um sinal de apaziguamento diplomático entre Pequim e a Santa Sé após várias nomeações sem a autorização do papa.
O sacerdote Peter Wu Yishun, 59, foi consagrado bispo de Shaow, na província de Fujian. Ele foi nomeado pelo papa Francisco no marco de um acordo histórico, assinado em 2018 entre o regime comunista de Pequim e a Santa Sé, que teve como pano de fundo um contexto de tensão envolvendo católicos no gigante asiático.
Foi a terceira nomeação de bispos com o aval do Vaticano em uma semana, após consagrações nas dioceses de Zhengzhu, na província central de Henan, e de Weifang, na província de Shandong, também no centro do país. A sequência incomum de nomeações indica um período de apaziguamento diplomático após meses de relações conturbadas entre o Vaticano e Pequim.
A China e o Vaticano não mantêm relações diplomáticas desde o início dos anos 1950, quando a Santa Sé reconheceu a independência de Taiwan —ilha que o regime chinês considera uma província rebelde.
Mas o tratamento se deteriorou em abril do ano passado, após o regime chinês romper um acordo e nomear o bispo de Xangai sem o aval de Francisco. A ação desrespeitou um pacto que, firmado em 2018 e renovado em 2022, determinou que todas as indicações de bispos e padres no país asiático têm de ser reconhecidas pelo papa.
Pequim tem como política erradicar influências estrangeiras em favor da autoridade do Partido Comunista. Em 2023, o Vaticano chegou a expressar “mal-estar” com o anúncio da nomeação unilateral de dois bispos pela China, entre eles, o de Xangai, a maior diocese católica do país.
O pacto firmado em 2018, cujos detalhes do conteúdo não foram divulgados, busca reunir os católicos chineses divididos entre as igrejas oficial e clandestina, e outorga ao papa a última palavra para nomear os bispos.
O tratado foi o primeiro passo para o regime liderado por Xi Jinping reconhecer o pontífice como líder da Igreja Católica. Antes, postos eclesiásticos no território contavam apenas com o endosso da chamada Associação Patriótica Católica Chinesa, que, em última instância, respondia às autoridades chinesas.
Em quatro anos, o texto suscitou críticas dentro da igreja. Alguns o consideram um método de controle imposto por Pequim sobre os cerca de dez milhões de católicos no país, onde as limitações às liberdades religiosas continuam sendo um alvo.