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Túneis do Hamas em Gaza são pedras no sapato de Israel – 16/11/2023 – Mundo

A Faixa de Gaza tem todas as armadilhas assustadoras que soldados aprenderam a esperar da guerra urbana: emboscadas em arranha-céus, linhas de visão truncadas e, em todos os lugares, civis vulneráveis sem lugar para se esconder.

Mas, à medida que as forças terrestres israelenses avançam na Faixa de Gaza, o perigo maior pode ser subterrâneo.

Os combatentes do Hamas que lançaram um ataque sangrento contra Israel no mês passado construíram um labirinto de túneis escondidos que alguns acreditam se estender por grande parte da Faixa de Gaza, ou talvez toda ela.

E não são meros túneis.

Serpenteando sob densas áreas residenciais, as passagens permitem que os combatentes se movam livremente, longe dos olhos do inimigo. Também há abrigos para armazenar armas, comida e água, e até mesmo centros de comando e túneis largos o suficiente para veículos, estimam os pesquisadores.

Portas e escotilhas com aparência comum servem como pontos de acesso disfarçados, permitindo que os combatentes do Hamas saiam em missões e depois voltem sem serem vistos.

Nenhum estrangeiro tem um mapa exato da rede, e poucos israelenses a viram pessoalmente.

Mas fotos, vídeos e relatos de pessoas que estiveram nos túneis sugerem os contornos básicos do sistema e como ele é usado. O material de origem inclui fotografias tiradas dentro das passagens por jornalistas, relatos de pesquisadores que estudam os túneis e detalhes da rede que surgiram das forças israelenses quando invadiram Gaza em 2014.

Túneis Táticos

Essas estruturas reforçadas com concreto são mais do que um canal de trânsito. Eles servem como abrigos contra ataques, salas de planejamento, depósitos de munição e espaços para reféns.

Desmantelar os túneis é uma parte fundamental do objetivo de Israel de eliminar a liderança do Hamas após os ataques de 7 de outubro.

Israel usou a existência dos túneis como justificativa para bombardear áreas civis, incluindo após um grande ataque aéreo israelense atingir uma área densamente povoada no bairro de Jabalia. O Hamas negou que seus túneis estivessem sob alguns dos locais específicos atingidos por Israel, e muitas vezes é impossível verificar as acusações de Israel.

Para destruir os túneis no solo, as tropas israelenses em Gaza precisarão encontrar entradas que geralmente estão escondidas nos porões de prédios civis, levando a túneis revestidos de concreto, sugerem imagens. Eles geralmente têm apenas cerca de dois metros de altura e um metro de largura, segundo especialistas, forçando os combatentes a passarem por eles em fila única.

Uma mulher israelense de 85 anos que foi mantida refém por 17 dias nos túneis depois de ser sequestrada em 7 de outubro descreveu ter sido conduzida por um “emaranhado de teias de aranha” de túneis úmidos. Ela eventualmente chegou a um grande salão onde outras duas dúzias de reféns estavam sendo mantidos, disse ela.

Acredita-se que ainda há mais de 200 reféns israelenses mantidos pelo Hamas, e muitos provavelmente estão nos túneis que Israel pretende destruir. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu disse que trazê-los para casa é um dos dois principais objetivos da invasão, sendo o outro “destruir o Hamas”.

Os túneis usados para esconder equipamentos e combatentes do Hamas não são as únicas passagens secretas em Gaza.

Depois que o Hamas chegou ao poder em 2007 e Israel apertou seu bloqueio ao território, uma extensa rede de túneis de contrabando cresceu sob a fronteira entre Gaza e o Egito. Esses túneis são usados para contornar o bloqueio e permitir a importação de uma ampla variedade de mercadorias, desde armas e equipamentos eletrônicos até materiais de construção e combustível.

As autoridades egípcias fizeram esforços extensos para destruir essas rotas de contrabando, incluindo o bombeamento de água do mar para inundar a rede e colapsar muitos dos túneis. Mas acredita-se que alguns túneis de contrabando ainda estejam em operação.

Túneis de Contrabando

Esses túneis foram documentados na área de Rafah, onde são usados para trazer todos os tipos de mercadorias e produtos do Egito para a Faixa de Gaza

Embora o Exército israelense supere em muito o do Hamas em tamanho e equipamento, lutar contra um inimigo com sua própria rede de túneis é uma empreitada de alto risco.

John W. Spencer, que estuda guerra urbana no Instituto de Guerra Moderna da Academia Militar dos EUA, descreve isso como mais parecido com “lutar debaixo do mar do que na superfície ou dentro de um prédio”.

“Nada que você use na superfície funciona”, disse ele recentemente no podcast Modern Warfare Project. “Você precisa ter equipamentos especializados para respirar, ver, navegar, comunicar e implantar meios letais, especialmente atirar.”

Um dos principais perigos de entrar nos túneis é que o Hamas armou as entradas com explosivos, dizem os especialistas.

“No momento em que perceberem que os israelenses entraram nos túneis, eles simplesmente apertarão o botão e tudo poderá desabar sobre os israelenses”, disse Ahron Bregman, professor sênior do King’s College London, especializado no conflito árabe-israelense.

O Desafio de Desativar os Túneis

O perigo não termina depois que um túnel é detectado

As forças israelenses provavelmente não serão capazes de destruir toda a rede de túneis. “É simplesmente muito grande, e não há sentido em desmantelar tudo”, disse Bregman. Em vez disso, eles vão se concentrar em bloquear as entradas dos túneis, provavelmente por meio de ataques aéreos ou com explosivos.

Também é improvável que levem sua luta para o subsolo —a menos que acreditem que não têm outra escolha.

Entrar nos túneis tiraria das forças israelenses suas vantagens, disse Bregman. No momento, os israelenses estão avançando com um grande número de tropas, tanques e helicópteros. “No momento em que você chega ao túnel, é um contra um.”

FONTES: Forças de Defesa de Israel; depoimento perante as Nações Unidas de Eado Hecht, analista militar que leciona no Colégio de Comando e Estado-Maior do Exército de Israel e nas Universidades Bar-Ilan e Haifa; vídeos de Deutsche Welle News, VICE News e mídias sociais; referências fotográficas da EPA Images, Getty Images e AFP

Fonte: Folha de São Paulo

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