Durante discurso em uma das principais conferências pró-Israel dos EUA, Donald Trump afirmou que, caso perca a eleição, eleitores judeus terão muito a ver com isso.
“Vou colocar do jeito mais simples e gentil que eu posso. Eu não fui tratado adequadamente pelos eleitores que acontece de serem judeus. Se eu não ganhar essa eleição, o povo judeu vai realmente ter muito a ver com isso”, afirmou na noite desta quinta (20) em Washington, diante de uma plateia de cerca de 3.000 pessoas —em sua maioria, judeus.
Trump reclamou que seu apoio entre esse eleitorado subiu apenas de 24% para 29% entre 2016 e 2020, apesar de ele se considerar “o melhor presidente para Israel e para o povo judeu, de longe”.
O republicano elencou uma série de medidas que adotou em seu governo, como o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel, sob forte aplauso do público, que ficou em pé ao vê-lo no palco. O clima, porém, mudou quando o empresário começou a citar as estatísticas.
Apesar do estranhamento palpável diante do rumo do discurso, Trump prosseguiu, dizendo que “o povo judeu não tem desculpa” e que “não se tratou bem” por não terem votado em massa nele na disputa contra Joe Biden.
“O que me deixa mais chateado é que as pesquisas atuais mostram que estou com 40%. Isso significa que 60% vão votar em Kamala [Harris] ou em um democrata. Honestamente, vocês precisam ter a cabeça examinada. Esses votos podem ser necessários para nós vencermos”, completou.
Não é a primeira vez que Trump alude à ideia de que judeus são desleais —um comentário tipicamente antissemita. Apesar disso, um advogado de New Jersey que participava do evento disse à Folha que gostou do discurso. Ele minimizou as reclamações do ex-presidente sobre a falta de votos. “É só o Trump sendo Trump”, disse.
O republicano participou da abertura da conferência anual do Conselho Americano-Israelense (IAC, na sigla em inglês), uma organização comandada por Elan Carr, enviado especial para combate ao antissemitismo durante o governo do empresário.
Trump também disse no evento que Israel “vai acabar em dois anos” se Kamala for eleita. “Israel não vai encarar apenas ataques como o do 7 de outubro, mas aniquilação total. Vocês têm um grande protetor em mim, não no outro lado”, disse, sob aplausos.
Ainda no campo das ameaças, o empresário disse que não têm dúvidas de que o Irã conseguirá armas nucleares caso os democratas continuem na Casa Branca.
O republicano prometeu ainda reinstaurar a proibição de entrada nos EUA de cidadãos de países predominantemente muçulmanos.
Judeus são cerca de 2% da população americana e, politicamente, tendem a votar em democratas. Uma pesquisa feita em abril a pedido do Instituto do Eleitorado Judeu mostrou que o então candidato do partido, Joe Biden, tinha 67% de apoio, contra 26% de Trump.
Apesar de pequeno, o grupo é relevante na Pensilvânia, estado que caminha para ser o principal palco de batalha da eleição neste ano. Cerca de 3% do eleitorado, ou 300 mil votos, é judeu, de acordo com o Projeto da População Americano-Judaica na Universidade Brandeis.
Em 2020, Biden venceu o estado por uma diferença de menos de 81 mil votos.
Trump prometeu nesta quinta que, se eleito, vai garantir o que chamou de “direito de Israel de vencer sua guerra ao terror”, criticando Kamala por defender um cessar-fogo. Ele acusou a oponente de querer adotar um embargo total da venda de armas para Israel e disse que ela será pior para o aliado no Oriente Médio “do que Barack Hussein Obama”, enfatizando o nome do meio do ex-presidente.