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TikTok: perfis falam sobre guerra entre Israel e Hamas – 13/10/2023 – #Hashtag

Na era das redes sociais, as guerras passaram a ser transmitidas e assistidas online. Da força aérea israelense a moradores da Faixa de Gaza, civis e militares empunham seus celulares e publicam fotos e vídeos da guerra. E o TikTok, com mais de 1 bilhão de usuários ativos mensais, está entre as principais plataformas.

Mas como é se informar sobre a guerra Israel-Hamas pelo TikTok, rede cujo público é majoritariamente jovem? Com essa pergunta em mente, abro o TikTok pela primeira vez desde o início do conflito e faço as três buscas que considero mais óbvias: Israel, Hamas e guerra.

Israel

O primeiro resultado para a busca por “Israel” é um vídeo do portal de notícias Metrópoles que mostra jovens no festival de música eletrônica Universo Paralello, momentos antes do ataque do Hamas que resultaria em mais de 260 mortes.

O vídeo de 18 segundos e 3,1 milhões de visualizações não traz cenas chocantes, o que foi uma preocupação antes de dar o play.

Leio os comentários:

“Poxa, meu, rave na Faixa de Gaza? Uma verdadeira panela de pressão, rodeados de extremismo religioso, é praticamente um atestado de óbito!”

“O que leva a pessoa ir num festival de música eletrônica em plena Faixa de Gaza, uma área de guerra?!?”

Busco notícias na Folha e vejo que a rave não era “na Faixa de Gaza”, mas em uma área a 20 km da região de conflito, e leio que Israel possui uma efervescente vida noturna e cultural, como um oásis libertário em meio a estados ditatoriais.

O próximo vídeo é do perfil “@pregacaopoderosa”, com a legenda “A Bíblia está se cumprindo”, e 13,2 milhões de visualizações.

“A Bíblia fala de um Exército que vem contra Israel de 200 milhões de homens”, diz o narrador. “Na época que João escreveu não tinha 200 milhões de pessoas no mundo. Mas se você pegar os inimigos de Israel hoje, os muçulmanos e a China, você põe 200 milhões de soldados”, continua a narração.

O vídeo é uma amostra de uma análise recente publicada por esta Folha: “Por que tantos evangélicos defendem Israel no novo conflito?”

Parto para o próximo, publicado pelo perfil @willteixeiraofc1, um “pregador assembleiano”.

“Essas crianças foram sequestradas por um terrorista palestino em Israel”, diz o pregador, exibido na parte inferior do vídeo, enquanto a parte superior mostra cenas de crianças em uma gaiola. A publicação soma 2,7 milhões de visualizações e 140 mil curtidas.

Checo se há alguma verdade nessa informação. Em uma rápida busca, leio que a agência de checagem de fatos FakeReporter constatou que o vídeo havia sido publicado no dia 4 de outubro, ou seja, três dias antes do início da guerra. O dono da conta fez um novo vídeo nesta quarta (11), dizendo que os meninos são seus parentes, e não crianças israelenses sequestradas.

Na sequência, um vídeo publicado pelo perfil em espanhol “loquenotemuestran1”, com a legenda “A Faixa de Gaza neste momento sendo varrida do mapa”.

São imagens impressionantes, mas seriam reais ou criadas por inteligência artificial? Ou cenas de um videogame? Se forem reais, seriam recentes ou mesmo em Gaza? Vídeos adulterados estão inundando a internet e transformando a guerra Israel-Hamas em uma distopia. Como usuário, não dá mais para confiar em nenhum material que esteja circulando que não tenha sido validado por alguma instância confiável, como um governo, um veículo jornalístico, uma organização.

De repente, o vídeo de um brasileiro em Israel.

“É rapaz, vou falar um trem procê, se eu não morrer nessa guerra, morro de cirrose”, diz o goiano Marco Aurélio Freitas, enquanto aponta uma taça de bebida. O agropecuarista estava em Israel com os pais e o irmão para uma viagem de turismo religioso. Pouco depois, ele mostra um chinelo rasgado. “Tocou um alarme de um bunker ali, a veia pisou no meu chinelo, foi chinelo para um lado, veia para o outro, olha a situação do cidadão”, diz, rindo.

Nos comentários, bastante gente se divertiu com a fala, mas houve também quem não achou nada engraçado. “Gente, que homem é esse que fica tirando sarro de uma coisa grave dessa”, escreveu Clara Almeida.

Hamas

O primeiro resultado na busca por “Hamas” é um vídeo do perfil @wnt.noticias. Não há muitas informações sobre o autor, apenas que seu canal cobre “Notícias do Brasil, mundo, saúde e vida dos famosos. Apartidário.”

No vídeo, o rapaz passa 1m24s descrevendo o que é o Hamas e quais são seus objetivos a partir de leituras de fontes não identificadas. Em um assunto tão denso como esse, como confiar em uma narração de um desconhecido? 19 mil pessoas aprovaram e deram um like no vídeo, que já foi visto por quase 900 mil usuários. A informação, hoje em dia, circula desintermediada.

O próximo vídeo é do perfil @politicortess, cuja descrição é categórica: “AQUI VOCÊ ENCONTRA TUDO O QUE A GLOBO NÃO MOSTRA!”

O vídeo é um trecho de um telejornal em que a apresentadora diz que “o grupo terrorista Hamas parabenizou o presidente eleito Lula da Silva. Em uma publicação no site oficial, o Hamas considerou que a eleição de Lula foi uma vitória para todos os povos oprimidos ao redor do mundo, particularmente o palestino”.

Nos comentários, há um predomínio de apoiadores de Bolsonaro. “Ele sim é digno de ser presidente do nosso Brasil @BolsonaroMessiasJair”, escreveu Jonathan Silva.

Depois, mais um vídeo do festival Universo Paralello, dessa vez do portal UOL, que mostra jovens fugindo desesperados depois do início do ataque do Hamas.

Na sequência, novamente um vídeo do portal Metrópoles, com militares de Israel exibindo o arsenal de bombas que serão usadas na guerra contra o Hamas.

O próximo resultado é do perfil @borgesmilitary, cuja descrição direciona para um site de venda de itens militares.

“O que acontece com as mulheres pegas pelo Hamas, com as crianças, com os idosos e até mesmo com os bebês? Eu não preciso entrar em detalhes, mas você sabe bem o que acontece com os indefesos na Faixa de Gaza?”.

Com uma música ao fundo, o restante da narração justifica o ataque de Israel com frases como “já não se trata mais de vingança por parte de Israel, e sim de justiça”, e chama o Hamas de “covardes, que não enfrentam o Exército de Israel de frente”.

Guerra

O primeiro resultado na busca por “guerra” é um vídeo do portal UOL que mostra um edifício ligado ao Hamas sendo bombardeado por Israel. O vídeo começa com o momento exato em que o míssil atinge o prédio até a câmera ficar totalmente coberta por poeira.

O segundo resultado é do perfil @bibliainspiradora. “Israel declara guerra no dia de hoje”, diz o narrador no início do vídeo. Após descrever os ataques do Hamas e a reação de Israel, conclama os seguidores para que “fiquem ligados no perfil Bíblia Inspiradora. Estarei trazendo todas as notícias atualizadas. E gente, orem por Israel. Se você ama Israel, comente nos comentários. Deus proteja Israel”.

O vídeo seguinte é do perfil @assembleiadedeusnobrasil, que traz o depoimento de um soldado apontado como brasileiro/israelense e de nome Raphael. “Estamos no sétimo dia de guerra. Estamos muito cansados”, diz, enquanto descreve o cenário da guerra e pede oração pelos que estão sofrendo.

Na sequência um vídeo bastante aleatório, do perfil @dgcuriosities, que mostra supostos “aliados do Brasil em caso de guerra”, sem citar fonte nenhuma. Espanha, México e Argentina são os três primeiros. Depois, Portugal, Itália, Japão, China, Índia e Rússia.

O próximo vídeo é do perfil @vicky_vanilla_official. “Eu venho aqui em nome de todos os nossos irmãos da comunidade judaica, sejam eles da tradição conservadora ou ortodoxa, ou da linhagem reformista, que é a minha, venho em nome de todos os magos cabalistas, de todos os simpatizantes da tradição do judaísmo esotérico”, diz o homem na introdução. E então explica que se está próximo da guerra de Gog and Magog, conforme escrito na Torá, e critica cristãos que veem no conflito Israel-Hamas um retorno de Cristo.

Conclusão

Em um recente estudo publicado no jornal New Media & Society, os pesquisadores Nick Hagar e Nicholas Diakopoulos constataram que o TikTok é um deserto de notícias. De 6.568 vídeos que analisaram na “For You” [sistema de recomendações da rede da Bytedance], apenas seis poderiam ser classificados como noticiosos. E isso apesar de os bots da pesquisa terem sido treinados para serem interessados em notícias.

Dos 17 vídeos analisados neste texto, apenas quatro são de veículos jornalísticos tradicionais, corroborando o estudo. Todos eles, porém, são curtos, com cenas breves, sem mais detalhes ou análises aprofundadas do que está acontecendo.

Depois de horas buscando conteúdo sobre a guerra no TikTok, a minha “For You” começou a entregar conteúdo sobre a guerra, como os vídeos abaixo.

O primeiro mostra cenas diretas de confrontos entre Israel e Hamas.

O segundo é de um brasileiro que diz ter sido parte da força de inteligência de Israel, e que diz que soldados israelenses fazem esforços para salvar crianças palestinas durante confrontos com o Hamas.

O experimento se encerra com a certeza de que para entender a guerra o melhor caminho está longe do TikTok, embora possa haver depoimentos interessantes, como de brasileiros que estavam/estão em Israel. E com a percepção de que, ao menos no tema da guerra Israel-Hamas, a comunidade evangélica brasileira está bastante presente no TikTok.



Fonte: Folha de São Paulo

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