“It’s me. Hi! I’m the problem, it’s me.”
Taylor Swift é uma dor de cabeça para a campanha de Donald Trump. Desde seu apoio a Joe Biden em 2020, a influência da cantora, hoje uma das maiores pop star do mundo, só cresceu, e um potencial novo endosso dela ao presidente —um dos “wildest dreams” democratas— é motivo de histeria entre a base extremista do empresário.
Em resposta, os apoiadores mais ferrenhos de Trump têm criado teorias da conspiração mais criativas que as letras da cantora.
A mais recente afirma que a vitória do time de futebol americano do namorado de Swift, Travis Kelce, no último domingo (28), levando o Kansas City Chiefs ao Super Bowl, é um complô do governo para que a equipe leve o campeonato. Isso, pela lógica dos trumpistas, impulsionaria ainda mais a popularidade do casal que, em seguida, endossaria Biden.
Ou, em resumo, assim como as eleições de 2020 teriam sido fraudadas, a NFL (Liga Nacional de Futebol Americano, na sigla em inglês) também está sendo manipulada para favorecer Biden, alegam. Contribui para a narrativa da base de Trump o fato de Kelce ter participado de campanhas pró-vacina contra a Covid da Pfizer e de uma propaganda da cerveja Bud Light, que virou alvo de conservadores após parceria com uma influenciadora trans nas redes sociais.
Longe de se restringir a perfis anônimos no X, a teoria está sendo difundida por um pré-candidato republicano que obteve 7,7% dos votos em Iowa: Vivek Ramaswamy. Ele saiu da corrida e, desde então, vem fazendo campanha para Trump.
“Eu me pergunto quem vai ganhar o Super Bowl mês que vem. E eu me pergunto se haverá um grande endosso presidencial vindo de um casal artificialmente promovido culturalmente neste outono. Apenas algumas especulações selvagens por aqui, vamos ver como isso envelhece nos próximos 8 meses”, postou Vivek, conhecido também por apoiar teorias da conspiração sobre o 11 de Setembro e o 6 de Janeiro.
O Super Bowl é o ponto alto do futebol americano, acompanhado por milhões de pessoas, palco ainda de um show da estrela do momento e comerciais produzidos especialmente para seu intervalo. Neste ano, acontece em 11 de fevereiro, com apresentação de Usher.
Independentemente do resultado do jogo, Swift e Kelce já são o maior casal da cultura pop americana atual. O atleta é um dos principais nomes dos Chiefs, que estão em seu quarto Super Bowl nos últimos cinco anos —muito antes de qualquer relação de seu astro com a cantora.
Embora todos os fatos desmintam a teoria, que vem sendo ridicularizada, seus disseminadores buscam preparar o terreno da base trumpista para o potencial apoio de Swift a Biden, temendo —não sem razão— o impacto que ele pode ter nas urnas.
No ano passado, por exemplo, um post da cantora nas redes sociais incentivando seus milhões de seguidores a se registrarem como eleitores gerou 35 mil novas inscrições, segundo a plataforma Vote.org. Segundo uma pesquisa recém-divulgada, 18% dos eleitores votariam num candidato expressamente apoiado por ela.
Em uma eleição que deve ser extremamente acirrada, o apoio do público jovem da cantora, desanimado até agora tanto com Biden quanto com Trump, é item de desejo das duas campanhas.
Além do suposto complô com a NFL, Swift já foi acusada de ser uma arma secreta do governo para manipular a opinião pública.
“Em relação a essa teoria da conspiração, nós vamos ‘shake it off’. Mas isso mostra que nós ainda precisamos que o Congresso aprove nosso pedido de orçamento suplementar tão ‘Swift-ly’ [rápido] o possível para que nós possamos estar ‘out of the woods’ com potenciais preocupações fiscais”, respondeu o Pentágono, em nota, sim, oficial.
No domingo, a cantora também foi criticada por ter voado em seu jatinho particular de Nova York, onde mora, a Baltimore, onde foi o jogo, a cerca de 300 km de distância. A crítica pela suposta falta de preocupação ambiental não é nova, mas o curioso é ter sido veiculada pela Fox News, um canal que frequentemente difunde teorias que negam o aquecimento global.
Swift já entrou em conflito com Trump em 2018, quando apoiou dois candidatos democratas nas eleições no Tennessee. Na época, ela justificou o endosso nas redes sociais dizendo que sempre votou em candidatos que vão “proteger e lutar pelos direitos humanos” e que “qualquer forma de discriminação baseada na orientação sexual e gênero é errada”. Ela ainda afirmou que o “racismo sistemático que ainda vemos nesse país” é “aterrorizante, nauseante e prevalente”.
Trump, que apoiava uma candidata republicana na corrida, disse que “tinha certeza” de que Swift “não sabia nada sobre ela”. “Vamos dizer que eu gosto da música de Taylor 25% menos agora, ok?”
Dois anos depois, Swift apoiou Biden na disputa presidencial de 2020. Um novo endosso da cantora está no topo das prioridades da campanha do presidente neste ano, segundo o New York Times.
“A agitação em torno da sra. Swift e do potencial de alcançar seus 279 milhões de seguidores no Instagram atingiu tanta intensidade que a equipe de Biden incentivou os candidatos em um anúncio de emprego para uma posição de mídia social a não descrever sua estratégia em relação a Taylor Swift —a campanha já tinha sugestões suficientes. Uma ideia que foi mencionada, um pouco em tom de brincadeira: enviar o presidente para um dos shows da turnê Eras da sra. Swift”, escreveu o jornal americano.
Em entrevista coletiva na Casa Branca, a secretária de imprensa do governo, Karine Jean-Pierre, chegou a ser questionada se o presidente faria uma aparição com a cantora (ela se negou a responder a questão, alegando não poder tratar de assuntos de campanha).