Os moradores de Homs, terceira cidade mais populosa da Síria, começaram a fugir em massa na quinta-feira (5) diante dos avanços dos rebeldes liderados por islamitas radicais, que na véspera tomaram Hama, 40 km ao norte. Eles estariam a cinco quilômetros de Homs, que tem cerca de 650 mil habitantes.
A cerca de 160 km de Damasco, Homs é a principal cidade do interior ainda totalmente controlada pelo regime de Bashar al-Assad, enfraquecido diante da ofensiva relâmpago dos rebeldes.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos afirmou nesta sexta (6) sobre bombardeios do Exército contra uma ponte na rodovia entre Homs e Hama “para tentar cortar a rota” e “garantir a segurança” da região.
À noite, dezenas de milhares de habitantes de Homs, principalmente membros da comunidade alauíta, à qual pertence Assad, fugiram em direção ao litoral, a oeste, disse a ONG com sede no Reino Unido.
Os rebeldes liderados pelos islamitas do HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla em árabe) tomaram a maior parte de Aleppo, a segunda maior cidade do país, e continuaram seu avanço em direção a Hama, mais ao sul.
Desde o início dessa ofensiva, em 27 de novembro, os combates e bombardeios deixaram 826 mortos, incluindo 111 civis, segundo o Observatório.
O ministro da Defesa sírio, Ali Abas, falou em reposicionamento das forças do regime no entorno de Hama. “É uma medida tática temporária, nossas forças continuam perto da cidade”, declarou.
Os moradores de Homs afirmam temer o avanço dos rebeldes. “O medo cobre a cidade”, disse à AFP Haidar, que vive em um bairro alauíta. Ele diz que quer fugir o mais rápido possível para Tartus, um bastião alauíta na costa, para onde já enviou seus pais.
Parte dos habitantes de Hama foi às ruas para receber os rebeldes, a pé ou de carro, aplaudindo sua chegada, segundo imagens da AFP. Houve quem ateou fogo a um gigantesco retrato de Assad pendurado nas paredes de um prédio municipal.
Ao chegar a Hama, alguns rebeldes dispararam para o ar e outros se ajoelharam para rezar.
A coalizão rebelde anunciou no Telegram a “libertação total de Hama” e a soltura de “centenas de prisioneiros injustamente detidos” na prisão central da cidade.
O chefe do HTS, Abu Mohamed al-Golani, prometeu em uma mensagem de vídeo que não haveria vingança em Hama. Segundo ele, seus combatentes entraram na cidade “para fechar a ferida aberta há 40 anos”.
Hama foi palco, em 1982, de um massacre cometido pelo Exército do regime do pai de Bashar al-Assad, Hafez Assad, ao reprimir uma insurreição.
Os confrontos desencadeados desde o início da ofensiva rebelde são os primeiros dessa magnitude desde 2020 na Síria. Em 2011, eclodiu no país uma guerra civil que já deixou meio milhão de mortos.
A Síria está dividida em várias zonas de influência, com áreas sob domínio do regime, do HTS, de grupos curdos e do Estado Islâmico.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu o fim do que ele chamou de massacre na Síria, fruto de um “fracasso coletivo crônico” em alcançar uma solução política para o conflito.
Com o apoio militar da Rússia, do Irã e do Hezbollah, o regime recuperou grande parte do território em 2015.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, cujo país é um importante aliado dos rebeldes, incentivou Assad a encontrar “urgentemente uma solução política”.
Irã e Rússia mantêm um “contato próximo” com a Turquia, segundo a diplomacia de Moscou.
Fragilizado por dois meses de guerra aberta com Israel, o Hezbollah ratificou na quinta seu apoio a Assad.