O regime de Bashar al-Assad, que trava uma guerra civil contra grupos rebeldes na Síria desde 2011, admitiu neste sábado (30) que combatentes entraram em Aleppo, a segunda maior cidade do país, e que dezenas de soldados morreram nos confrontos.
Trata-se do primeiro reconhecimento público de que os insurgentes invadiram a localidade, no noroeste da nação, em oito anos —em 2016, a ditadura disse ter restabelecido o controle da cidade com a ajuda da Rússia e do Irã.
A ofensiva, liderada pelo grupo Hayat Tahrir al Sham, ex-braço sírio da Al Qaeda, é um desdobramento dos ataques que tiveram início no meio desta semana e representa o maior desafio em anos para o ditador, que viu as linhas de frente da guerra civil síria congelarem após 2020.
A operação coincide com a entrada em vigor de um frágil cessar-fogo entre Israel e Hezbollah no vizinho Líbano após dois meses de intensos combates.
“A multiplicidade de frentes de batalha levaram nossas Forças Armadas a realizar uma operação de reimplantação com o objetivo de fortalecer as linhas de defesa para absorver o ataque, preservar as vidas de civis e soldados e se preparar para um contra-ataque”, disse o Exército, acrescentando que os combates se estenderam por mais de 100 quilômetros.
Os militares afirmam que os insurgentes não conseguiram estabelecer posições fixas na cidade devido ao bombardeio contínuo do Exército em suas posições.
O OSDH (Observatório Sírio de Direitos Humanos), por outro lado, diz que as facções “tomaram o controle da maior parte da cidade, dos edifícios governamentais e das prisões”, enquanto as forças insurgentes afirmam à agência de notícias Reuters que capturaram a cidade de Maraat Al-Numan, ao sul da cidade de Idlib. Tal feito colocaria toda a província de mesmo nome sob controle rebelde.
O observatório, uma organização com sede no Reino Unido, também relatou que, durante a noite, “aviões de guerra russos lançaram incursões em áreas da cidade de Aleppo pela primeira vez desde 2016” —Moscou enviou reforço aéreo à Síria em 2015 para ajudar Assad.
Nesta sexta (29), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que Moscou considerava o ataque rebelde uma violação da soberania síria. “Somos a favor de as autoridades restabelecerem a ordem na área e restaurarem a ordem constitucional o mais rápido possível”, afirmou.
O OSDH atualizou o número de mortos desde quarta (27) para 311. Entre eles haveria 183 combatentes do Hayat Tahrir al Sham e seus grupos aliados, 100 soldados sírios e milicianos pró-regime e 28 civis.