Beneficiado pela anistia que o premiê Pedro Sánchez (PSOE) concedeu aos envolvidos na tentativa de independência da Catalunha, o líder do Junts, Carles Puigdemont, anunciou que pretende se apresentar à investidura do governo da Catalunha. Ele era o presidente da comunidade autônoma em 2017, quando declarou a independência da região. Sua prisão foi decretada e ele fugiu para a Bélgica para não ser preso.
Com o anúncio desta segunda (13), o separatista aposta que seu rival socialista, que venceu as eleições de domingo (12), não conseguirá formar maioria para ser indicado como presidente da comunidade autônoma. Puigdemont aposta no fracasso de Salvador Illa, aliado de Sánchez e líder do PSC (Partido dos Socialistas da Catalunha), sigla que conquistou 42 assentos no Parlamento catalão, contra 35 do Junts.
“Eu me vejo como presidente, caso contrário não concorreria, não faria teatro”, disse Puigdemont em evento à imprensa nesta segunda, em Barcelona. “Existem certas opções para obter mais votos para sim do que para não”, declarou ele, que ainda não retornou à Espanha.
Os separatistas, que ocupavam o governo há mais de uma década, foram os grandes derrotados nas eleições locais, o que produziu um sério golpe nos sonhos de independência ainda acalentados na região.
Para bloquear a investidura do rival, Puigdemont já está pressionando a ERC (Esquerda Republicana Catalã), terceira sigla mais votada, com 20 assentos, a não se aliar ao PSC e facilitar a ascensão de Illa. O PSC, por sua vez, também pressiona a ERC a fazer o oposto.
Na noite de domingo, porém, o líder do ERC, Pere Aragonès, atual presidente em exercício da Catalunha, já disse a repórteres que seu partido passaria para a oposição, descartando apoiar os socialistas.
Para conseguir maioria, qualquer um deles precisará chegar a 68 assentos, o que abre caminho para uma série de acordos nas próximas semanas.
O líder dos Junts anunciou durante a campanha que, se não for presidente da comunidade autônoma, vai se aposentar da política. O cenário que propõe implica que o PSC se abstenha para torná-lo presidente.
Questionado expressamente sobre que incentivos Illa poderia ter para renunciar à presidência, depois de vencer as eleições, Puigdemont afirmou que “isso deve ser perguntado ao PSC ou ao PSOE”. Acrescentou que os socialistas repetiram durante a campanha que o seu objetivo é proporcionar estabilidade.
Puigdemont se refere a uma instabilidade a nível nacional, caso os socialistas se aliassem ao PP (15 assentos) para liderar a região. Neste caso, ele poderia retirar seu apoio ao governo nacional do PSOE, abrindo uma crise de ingovernabilidade para Sánchez, que deixaria de ter maioria no Congresso.
Sánchez, por sua vez, disse que tinha razão em relação ao “efeito curativo do perdão”, referindo-se à anistia. Segundo o primeiro-ministro, os catalães demonstraram “querer ficar e fazer parte da Espanha atraente” que os socialistas estão construindo.
Diante da possibilidade de sacrificar Illa em troca de garantir a governabilidade a nível nacional, Sánchez negou que possa fazer isso. “O governo da Catalunha se decidirá na Catalunha”, afirmou, ao mesmo tempo que disse que dará todo o apoio a Salvador Illa para que ele consiga maioria e seja empossado.