A promotoria federal de Nova York acusou de corrupção o senador democrata Bob Menendez, presidente do comitê de Relações Exteriores do Senado americano, e sua esposa, nesta sexta (22).
Segundo o promotor Damian Williams, o senador aceitou “centenas de milhares de dólares” em propinas de três empresários de Nova Jersey entre 2018 e 2022 para ele os “proteger e os enriquecer” e “apoiar o governo egípcio”.
O FBI, a polícia federal americana, encontrou na casa do casal maços de notas enfiados nos bolsos de casacos, 3 kg de barras de ouro e um carro de luxo, itens “que faziam parte da fraude”, segundo o promotor.
O senador negou e questionou as acusações. “Durante anos, têm tentado me silenciar e me enterrar politicamente nos bastidores”, afirmou Menendez em nota.
A acusação federal descreve um plano tramado durante jantares discretos, mensagens de texto e chamadas criptografadas —grande parte dele com o objetivo de aumentar a assistência dos Estados Unidos ao Egito e ajudar os empresários de Nova Jersey.
A esposa do senador, Nadine Menendez, é acusada de atuar como intermediária, transmitindo mensagens a um empresário americano-egípcio, Wael Hana, que mantinha conexões próximas com militares egípcios e oficiais de inteligência, segundo a acusação. Em uma mensagem de texto para um general egípcio, Hana se referiu ao senador, que tinha influência sobre vendas e financiamento militares, como “nosso homem”.
Na tarde desta sexta, Menendez enviou uma carta ao senador Chuck Schumer, líder da maioria na Casa, informando sua renúncia ao cargo de presidente do comitê de Relações Exteriores.
“Bob Menendez tem sido um dedicado servidor público e está sempre lutando arduamente pelo povo de Nova Jersey”, disse Schumer em nota. “Ele tem o direito ao devido processo legal e a um julgamento justo.”
De acordo com a acusação, o esquema de corrupção se estendeu além da ajuda estrangeira. O senador é acusado de usar sua posição oficial para influenciar investigações criminais de outros dois empresários de Nova Jersey, um dos quais é um arrecadador de fundos de longa data para suas campanhas.
Foi com esse objetivo que o democrata recomendou ao presidente Joe Biden que indicasse o advogado Philip Sellinger para ser procurador dos EUA em Nova Jersey. Menendez acreditava poder usar a indicação para influenciar a atuação de Sellinger em acusação criminal relativa a um dos empresários amigos, segundo a acusação. Sellinger, que acabou sendo confirmado para o cargo, não cedeu a pressões, disseram os promotores.
Menendez também é acusado de interferir em uma investigação do procurador-geral de Nova Jersey usando “conselhos e pressão”, em uma tentativa de ajudar o sócio de um homem que posteriormente presenteou a esposa de Menendez com um carro conversível da Mercedes.
Menendez, 69, de ascendência cubana e nascido em Nova York, é um veterano da política de Washington. Legislador democrata por Nova Jersey na Câmara entre 1993 e 2006, e em seguida senador, é uma das vozes mais influentes em questões diplomáticas na capital americana —e nem sempre consonante às ações da Casa Branca.
Em 2022, por exemplo, Menendez foi um dos mais duros críticos dos ensaios de reaproximação entre Estados Unidos e Venezuela após o início da Guerra da Ucrânia. Ele também afirmou que pediria audiências para que o Executivo explicasse a retirada de tropas do Afeganistão, em 2021, ação que ele chamou de “falha”.
O senador já teve problemas anteriores com a justiça federal. Ele foi acusado de corrupção em 2015, mas seu julgamento foi anulado por falta de um veredicto dos membros do júri em 2017.
No ano seguinte, o Departamento de Justiça pediu a um juiz que retirasse todas as acusações de corrupção contra Menendez, acusado de usar sua posição para promover os interesses de Salomon Melgen, um rico amigo oftalmologista, empresário e filantropo da Flórida, em troca de presentes e financiamento de campanha.