Sem vislumbrar a possibilidade de deixar a Faixa de Gaza, o grupo de brasileiros e moradores do Brasil assistidos pelo Itamaraty no sul da região sofre com o aumento na intensidade de ataques israelenses.
Nesta quinta (19), Tel Aviv promoveu um ataque aéreo contra Khan Yunis, cidade ao sul da Faixa de Gaza em que estão 16 dos 26 cidadãos brasileiros e palestinos com residência no Brasil esperando para serem repatriados.
Ao menos quatro pessoas morreram. Nenhum dos integrantes do grupo assistido pelo Itamaraty se machucou, mas os diplomatas que os assistem relatam tensão generalizada no local e em Rafah, a cerca de 10 km dali, onde estão as outras dez pessoas à espera da saída. O Brasil informou Israel as coordenadas dos locais de abrigo para tentar evitar bombardeios.
As duas cidades ficam fora da zona de exclusão determinada por Israel, mas têm sido alvejadas quase diariamente —líderes do Hamas se esconderam nelas, como seria previsível após o últimato de Tel Aviv. Não há previsão de quando eles ou outros estrangeiros à espera na região poderão sair: o acordo para a entrada de caminhões com ajuda humanitária vindos do Egito não prevê que ninguém pegue o caminho de volta.
O governo no Cairo, apesar da pressão dos EUA, Brasil e outros, teme que a saída leve a uma tentativa de êxodo que o país rejeita: primeiro, porque já tem de lidar com 290 mil refugiados e, segundo, porque sabe que essa população não mais voltaria a Gaza, o que politicamente o enfraqueceria no conjunto de nações árabes.
Do lado israelense, o acordo por meros 20 caminhos de ajuda humanitária não inclui abrir portão a ninguém. As autoridades, que controlam o posto de Rafah, temem a fuga de integrantes do Hamas enquanto há talvez 250 reféns feitos no mega-ataque terrorista do grupo contra Israel no dia 7, que deixou 1.300 mortos.
A ação terrestre contra o território segue indefinida. Ela é ora vista como iminente, ora qualificada por oficiais das Forças de Defesa de Israel como apenas uma hipótese. Até aqui, morreram quase 3.800 palestinos na retaliação com bombardeios a Gaza, que é administrada pelo Hamas desde 2007.
Enquanto isso, o drama se desenrola em campo. O problema mais imediato de falta de água e mantimentos para o grupo foi resolvido pelo Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, a capital da Cisjordânia.
O contato entre o posto e os brasileiros é feito por uma rede de apoio local em Gaza. A situação, contudo, é precária, com queda de sinal e a escassez de combustível para fazer funcionar os geradores de eletricidade —Israel cortou a luz que fornece a Gaza.
O grupo que está em Rafah veio da capital homônima da faixa, onde tinham sido abrigados em uma escola católica antes do ultimato israelense da sexta (13). Desde então, como relatam em vídeos gravados por celular, o clima é de apreensão e expectativa.
Além do trabalho dos diplomatas em Ramallah e Tel Aviv, um grupo do Itamaraty se deslocou para a península do Sinai para preparar a recepção aos brasileiros. Na quarta (18), um avião Embraer 190 da Presidência pousou no aeroporto principal da região, Al Arish, trazendo 40 purificadores de água e kits médicos.
A aeronave, que estava em Roma, vai esperar autorização para a repatriação, quando e se os portões de Rafah forem abertos, no Cairo. Enquanto isso, seguem as tratativas do governo brasileiro junto ao egípcio e ao israelense, além de contatos com o próprio Hamas, sobre a crise.