Onze anos após deixar o poder, Nicolas Sarkozy segue causando polêmica na França. A mais nova envolve a Guerra da Ucrânia: na semana passada, o ex-presidente provocou indignação em Paris e Kiev ao sugerir que a saída para a guerra seria a convocação de novos referendos em territórios ocupados pela Rússia.
“Os ucranianos querem reconquistar o que lhes foi injustamente tirado. Mas se não conseguirem fazê-lo, a escolha será entre um conflito congelado ou referendos estritamente supervisionados pela comunidade internacional”, disse o ex-líder francês em uma entrevista ao jornal Le Figaro para promover seu novo livro.
Sobre a Crimeia, anexada em 2014, ele chamou o desejo dos ucranianos de retomá-la de ilusão e apontou que “um referendo incontestável será necessário para solidificar o atual estado das coisas”.
Sarkozy também afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, não é irracional e defendeu que a Ucrânia seja um país neutro; ou seja, não integre a Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA. “A Rússia é vizinha da Europa e continuará sendo”, disse ele. “Diplomacia, discussão e conversações continuam sendo a única maneira de encontrar uma solução aceitável. Nada é possível sem acordos.”
Os comentários geraram reação imediata de Kiev. Mikhailo Podoliak, assessor do presidente Volodimir Zelenski, fez o que costuma fazer: correu para a plataforma X, o ex-Twitter, e chamou os argumentos do ex-líder francês de “fantástica lógica criminosa”. “O encorajamento de Sarkozy é uma cumplicidade direta com um crime que já dura anos”, postou, citando as negociações de países ocidentais com Putin em 2008, para acabar com a invasão da Geórgia, e em 2014, quando começaram os conflitos no leste ucraniano.
Sarkozy foi um dos chefes europeus que negociaram com Putin o fim da guerra contra os georgianos.
Para Jérôme Poirot, ex-assessor de inteligência de Sarkozy, as falas foram vergonhosas. “Ele não tem perspectiva sobre o que aconteceu ou sobre o que fez” durante seu mandato, de 2007 a 2012, disse ele, lembrando que o ex-líder francês foi uma das vozes contra a adesão de Geórgia e Ucrânia à Otan em 2008.
Neste domingo (20), Zelenski visitou a Holanda e ouviu do premiê Mark Rutte que seu país e a Dinamarca enviarão caças F-16 aos ucranianos, como Kiev vinha solicitando. O primeiro-ministro disse que a Holanda tem 42 aeronaves do modelo disponíveis, mas não comentou se enviará todos para o país ora em guerra.
Dias antes, os Estados Unidos haviam aprovado a entrega dos caças. Tal autorização era necessária, já que os veículos são desenvolvidos pela Força Aérea americana.
Em paralelo, a Rússia disse neste domingo que drones ucranianos atacaram quatro regiões na fronteira com a Ucrânia, ferindo cinco pessoas e forçando dois aeroportos de Moscou a desviar voos brevemente.
Mais cedo, o Ministério da Defesa russo comunicou o bloqueio de um drone que diz ser ucraniano na região de Moscou, forçando-o a cair em uma área despovoada.