Países no centro das duas principais guerras em curso no mundo, na Ucrânia e em Israel, Rússia e Irã finalizaram um antecipado acordo militar segundo o qual Moscou irá fornecer caças e helicópteros de ataque modernos para Teerã.
É a primeira vez que a República Islâmica faz uma aquisição do tipo desde que encomendou 35 caças MiG-29, que já estavam entrando em obsolescência, da União Soviética em 1990.
Segundo o ministro-adjunto da Defesa do país persa, Mehdi Farahi, disse nesta terça (28) à agência de notícias Tasnim, “os planos foram finalizados para caças Sukhoi Su-35, helicópteros de ataque Mil Mi-28 e treinadores a jato Iak-130 para integrar as unidades de combate do Exército do Irã”.
O acordo vinha sendo costurado há anos, e há especulações de que parte dos caças já esteja nas mãos iranianas, dado que havia um lote de 24 Su-35 em padrão de exportação pronto para ser entregue ao Egito, que abandonou o negócio após a invasão russa da Ucrânia, em 2022.
Não foi o único país a fazer isso, temendo represálias indiretas vindas das sanções ocidentais devido à guerra. A Indonésia, tradicional comprador de armas russas, também desistiu do mesmo caça em favor de modelos ocidentais. O Egito já opera o francês Rafale e negocia a aquisição da versão mais recente do americano F-15.
A compra iraniana é a primeira de material de ponta desde que o país adquiriu 80 caças F-14 dos Estados Unidos, em 1976, quando ainda era regido pelo xá. Até a Revolução Islâmica, que cortou laços entre Teerã e Washington, 79 deles foram entregues —e 41 seguem voando, segundo o IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres).
Eles formam o centro da aviação de combate do país, que tem 312 aeronaves, incluindo aí os MiG-29 e uma coleção de modelos americanos ainda mais velhos: 74 F-5 e 62 Phantom-2, além de 12 Mirage F-1 confiscados do vizinho Iraque na guerra entre os países (1980-88).
É uma frota obsoleta, com alguns melhoramentos domésticos. O Irã se destaca, contudo, em outros campos, particularmente o arsenal sofisticado de mísseis balísticos. Com 610 mil militares, tem a maior força do Oriente Médio e acaba de lançar um novo destróier.
Essa posição e a rede de aliados regionais fez com que os EUA ameaçassem diretamente o país a não se envolver na guerra entre Israel e o Hamas, grupo palestino apoiado por Teerã assim como o Hezbollah libanês e a milícia houthi do Iêmen, que têm atacado o Estado judeu de forma lateral desde o início do conflito ora pausado.
Não se sabe valores nem números exatos de equipamento envolvido na negociação entre Putin e os aiatolás. O Su-35 é considerado um avião sofisticado, apesar de não ter um radar comparável ao de modelos ocidentais, mas 24 unidades não mudarão o balanço militar da região. Mas é um salto de qualidade notável após 47 anos com os F-14.
Em 2022, o Irã administrou o 10º orçamento militar do mundo, segundo o IISS —US$ 44 bilhões, num ranking liderado com folga pelos EUA, seguidos por China e Rússia. O Brasil está em 15º, com US$ 23 bilhões nas contas britânicas.
O país vive sob sanções por parte dos EUA, que deixaram em 2018 o acordo que aliviava a pressão sobre a economia local em troca de Teerã não desenvolver a bomba atômica. Há negociações visando reabrir o arranjo, e hoje especialistas creem que os iranianos estão tecnologicamente aptos a montar um artefato nuclear.
Rússia busca mercados
Putin é aliado do Irã e dos outros membros do chamado Eixo da Resistência contra a normalização da existência de Israel entre seus vizinhos árabes, mas mantinha até a guerra boa relação com Tel Aviv. O russo, contudo, tem outros problemas para lidar na sua outrora pujante indústria de exportação bélica.
Moscou segue tendo na Índia, que mantém uma posição de independência no conflito ucraniano, seu maior mercado militar, ao lado da aliada China. Mas o fechamento global de portas a seu material levou a procurar países considerados párias no Ocidente.
Além do Irã, de quem recebe drones de ataque usados quase diariamente contra a Ucrânia, a Rússia estreitou laços com a opaca Coreia do Norte, ditadura comunista mais fechada do mundo.
O anunciado lançamento de um satélite espião, que segundo o ditador Kim Jong-un lhe permitiu ver a Casa Branca e instalações navais americanas, se realmente foi bem-sucedido teve a mão russa: no encontro que teve com Putin em setembro, foi discutida cooperação espacial.
Em troca, embora ninguém confirme, especula-se que Pyongyang tenha fornecido munição para artilharia russa de seus estoques. O Pentágono disse na segunda (27) que até mil contêineres com armamentos foram enviados desde então para Moscou.