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Rússia usa pneus para proteger bombardeiros contra drones – 03/09/2023 – Mundo

Com a escalada do emprego de drones pela Ucrânia contra alvos dentro da Rússia, inclusive bases aéreas, Moscou parece ter encontrado uma maneira engenhosa para tentar proteger seus bombardeiros dos cada vez menos detectáveis aviões-robôs lançados pelos vizinhos.

Imagens de satélite divulgadas pelo canal militar ucraniano Tatarigami_UA mostram ao menos dois bombardeiros estratégicos Tupolev Tu-95 sendo cobertos com pneus na base de Engels-2, em Saratov, 800 km a leste da fronteira ucraniana.

Elas foram captadas por um satélite francês e, segundo a Folha ouviu de dois analistas militares em Moscou, correspondem à realidade. Sites que trabalham com georreferenciação também as validaram.

O que não se sabe precisamente é a motivação. Na maior onda de ataques com drones contra a Rússia, na noite de terça (29) para quarta (30) passada, quatro aviões de transporte pesado Iliuchin Il-76 foram avariados, dois deles sendo totalmente destruídos. Vídeos que emergiram dos ataques mostraram que os drones atingiram a seção central das aeronaves, entre as asas, potencializando o efeito em tanques de combustível.

Os pneus colocados em dois Tu-95 se espalham justamente pelo centro e ao longo da envergadura da gigante aeronave, que tem 46,2 m de comprimento e mede 50,1 m de ponta a ponta das asas. Um Boeing-737 MAX 8, para efeito de comparação, tem 39,5 m e 35,7 m, respectivamente.

Um dos analistas ouvidos pela reportagem sugere que a função dos pneus é buscar confundir o sistema de aquisição de alvos. A maioria dos drones empregados pela Ucrânia usa um computador simples no qual o perfil de aviões inimigos é inserido, e a inteligência artificial rudimentar a bordo faz o resto do serviço: identifica a vítima e a atinge no ponto mais sensível.

Isso faz os modelos não precisarem de navegação por GPS, que é facilmente bloqueável. Mas o sistema não é tão inteligente assim, e diferenças nas formas aferidas, o que áreas escuras favorecem, podem confundir os robôs. Russos e chineses já fazem uso dessa tática ao pintar alguns de seus navios com faixas escuras, para dificultar a vida de drones aquáticos.

O outro analista, contudo, faz a suposição mais comum, que viralizou nas redes dedicadas à observação da guerra neste domingo (3): os pneus servem também para desviar o impacto direto dos drones. Parece algo tosco, mas quando se veem tanques, blindados e obuseiros com gaiolas simples dos dois lados do conflito, faz sentido.

O emprego dessas proteções se tornou tão universal que a Rússia já as coloca como acessório de fábrica nos seus novos tanques e blindados, como a feira militar Exército-2023 em Moscou mostrou recentemente.

Tudo depende, claro, do drone empregado. Quão mais leve e simples, como os modelos australianos de papelão usados por Kiev em um ataque contra a base aérea de Kursk (sul russo) com sucesso, mais facilmente rebatíveis são as aeronaves.

Saratov já foi alvo nessa guerra, em dois ousados ataques em dezembro passado. Engels-2 é a principal base de bombardeiros estratégicos da Rússia, com modelos Tu-22, Tu-95 e o mais pesado e capaz de todos, o supersônico Tu-160. O local abriga um bunker de armas nucleares para serem carregadas pelos aviões.

Para chegar até lá a partir de seu território, contudo, a Ucrânia conta com ao menos três modelos, o antigo drone a jato soviético Tu-141 e os recentes modelos leves a hélice UJ-22 e Bober, que vêm sendo usados contra Moscou (450 km da fronteira).

Mas, como o próprio serviço secreto da Ucrânia confirmou ao site americano The War Zone na semana passada, há infiltrados dentro da Rússia usando drones levíssimos e pequenos, como os de papelão, que são praticamente impossíveis de detectar. Daí talvez a precaução em Saratov.

A guerra dos drones tem mais valor simbólico que militar em um momento crítico da guerra para os ucranianos, embora a eventual destruição das preciosas aeronaves de ataque russas, que lançam seus mísseis contra a Ucrânia a partir de seu próprio espaço aéreo, tenha algum impacto. Segundo o site de monitoramento de perdas militares holandês Oryx, que só usa dados abertos, a Rússia já perdeu um Tu-95 (de uma frota pré-guerra de 60) e dois Tu-22 (de frota de 61) atacados por drones.

Neste domingo, houve ao menos um ataque com drones contra a Rússia, na região de Belgorodo (sul). Segundo o Ministério da Defesa, o aparelho foi abatido e não causou danos.

Fonte: Folha de São Paulo

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