O cofundador do grupo de direitos humanos russo Memorial, Oleg Orlov, 70, foi condenado a dois anos e meio de prisão nesta terça (27) por um tribunal em Moscou. Um dos principais nomes do grupo que venceu o Nobel da Paz em 2022, Orlov era acusado de “atacar a credibilidade das Forças Armadas” russas ao protestar contra a guerra da Ucrânia e acusar o presidente Vladimir Putin de mergulhar o país no fascismo.
Orlov foi condenado por participar de protestos contra a guerra e por ter escrito um artigo intitulado “Eles queriam fascismo. E conseguiram”, que foi publicado em um veículo francês em novembro de 2022. No texto, Orlov acusa Putin e parte da população russa de serem responsáveis pelo “assassinato em massa do povo Ucraniano” e por dar um “duro golpe no futuro da Rússia“.
Ao ouvir a sentença, o ativista disse que a condenação “mostra que o meu artigo estava correto”. O julgamento foi acompanhado por apoiadores e por diplomatas de países ocidentais. A promotoria disse no julgamento que Orlov demonstrou “ódio político da Rússia”. Ele foi condenado com base em leis aprovadas logo depois da guerra, que previam prisão para quem atacasse ou espalhasse informações falsas sobre as Forças Armadas.
O Memorial venceu o Prêmio Nobel da Paz em outubro de 2022 em conjunto com Ales Bialiatiski, da Belarus, e do Centro para Liberdades Civis da Ucrânia. A escolha foi uma resposta à invasão do país vizinho por Putin em fevereiro do mesmo ano, e o comitê norueguês do Nobel disse na época que os três premiados “fizeram um notável esforço para documentar crimes de guerra, abusos de direitos humanos e de poder”.
O grupo é um dos mais antigos de direitos humanos na Rússia, tendo sido fundado em 1989 com o objetivo de documentar as vítimas do stalinismo. Em dezembro de 2021, a Suprema Corte do país proibiu e desmanchou o grupo, dizendo que ele atuava como um “agente estrangeiro”.
Em nota, o Memorial disse que a condenação de Orlov “é uma tentativa de sufocar as vozes dos movimentos de direitos humanos da Rússia, mas seguiremos com nosso trabalho”, e que o cofundador era “um verdadeiro patriota russo”. “Porém, tudo na Rússia vira de cabeça para baixo: guerra é paz, clamar por paz é crime, e denunciar a violência estatal é um crime de ódio”.
A condenação de Orlov vem dias depois da morte do mais conhecido dissidente russo, Alexei Navalni, que morreu em circunstâncias não explicadas no último dia 16 em uma colônia penal no Ártico russo. O corpo dele foi entregue à mãe, Ludmila Navalnaia, no sábado (24).