A Rússia aumentou a pressão militar sobre o norte da Ucrânia neste sábado (11), segundo dia de uma ofensiva que abriu uma nova frente na guerra que iniciou em 24 de fevereiro de 2022.
Segundo o Ministério da Defesa em Moscou, as forças de Vladimir Putin conquistaram cinco vilarejos junto à fronteira do país em Kharkiv, perto da região russa de Belgorodo (sul).
A informação foi parcialmente contestada pela Ucrânia. O governador de Kharkiv, Oleh Siniehubov, afirmou que os combates ainda estão em curso nas localidades, que ficam entre 3 km e 5 km da fronteira russa.
Ele afirmou que, com isso, os invasores estão confinados em uma área, sem possibilidade aparente de avanço. Segundo blogueiros militares russos, contudo, o emprego intensivo de artilharia está abrindo buracos na defesa ucraniana.
Não há informações independentes disponíveis sobre o rumo da batalha. Seja como for, no relato ucraniano, houve avanço dos russos, que na véspera, segundo Kiev, haviam entrado em uma área 1 km além de sua fronteira.
“Certamente, a escalada pode crescer, a pressão pode aumentar, eles podem fortalecer sua presença militar”, disse o governador.
Não há risco iminente, diz ele, para a capital regional de Kharkiv, que tem o mesmo nome da região. Segunda maior cidade ucraniana, que tinha 1,5 milhão de habitantes da guerra e hoje tem talvez 1,3 milhão, ela fica 30 km ao sul da região dos combates.
A capital é objeto regular de ataques com mísseis e drones russos, mas desde o fim de 2022 não sofre um cerco militar. Quando os russos invadiram a Ucrânia, tomaram diversas áreas da província, efetivamente sitiando a cidade.
Em setembro daquele ano, contudo, uma ação surpreendente expulsou as forças russas da região. Desde o fim do ano passado, quando ficou evidente o fracasso da propalada contraofensiva ucraniana, Putin retomou a iniciativa, avançando em alguns pontos de Kharkiv junto à província ocupada de Lugansk.
Agora, o ataque ao norte levanta dúvidas sobre a intenção de Moscou. Uma conquista de Kharkiv, a capital, parece difícil do ponto de vista militar, pois demandaria muito mais homens. Putin havia prometido defender os cidadãos do sul russo com uma zona tampão, e isso parece ser mais exequível.
O que é certo, contudo, é que o ataque drena as já minguantes forças do presidente Volodimir Zelenski para mais uma frente de batalha.
Ele já foi obrigado a aumentar o escopo da mobilização de jovens adultos e, a exemplo que já fizera a Rússia no passado, irá trocar o serviço militar pela liberdade para alguns presos. Sua administração acredita ser possível convocar até 20 mil soldados nas prisões. Nenhum condenado por crime grave, como homicídio, poderá participar da seleção.
A medida, empregada largamente por grupos mercenários russos nos dois primeiros anos da guerra, costumava ser ridicularizada em Kiev como desespero de Putin. No mês passado, Kiev já havia passado uma legislação baixando a idade mínima para a mobilização nacional de 27 para 25 anos.
O mais importante é a chegada de novos equipamentos e munição do Ocidente, algo que ficou represado até aqui devido ao debate sobre a ajuda no Congresso dos Estados Unidos, que a liberou só no mês passado. “O pacote que realmente ajuda é o de armas trazidas para a Ucrânia, não só aquele anunciado”, disse Zelenski na sexta.
Na mesma data, a agência Reuters havia divulgado que os ucranianos esperam a chegada do primeiro caça americano F-16, doado pela Dinamarca, para junho ou julho. Eles tinham sido prometidos no ano passado, mas o processo de treinamento e adaptação das aeronaves é lento.
Analistas têm dúvida acerca da diferença que esses caças farão em campo, mas Kiev crê que possa afastar mais as aeronaves russas, que têm usado de forma maciça “bombas burras” com kits que as tornam o que pode se chamar de inteligentes, planando rumo aos alvos.
Os avanços russos, de todo modo, ocorrem enquanto não chega o equipamento ocidental. Desde que conquistou a cidade de Avdiivka em Donetsk, em fevereiro, as forças têm avançado bastante no leste do país invadido.
Kiev, por sua vez, já começou a evacuar diversas cidades da região dos combates, e manteve a rotina de ataques com drones contra o sul russo.
Neste sábado, duas pessoas morreram em ataques do tipo nas regiões de Belgorodo e Kursk, e outras cinco, em zonas ocupadas pelos russos em Donetsk.