spot_img
HomeMundoRepublicanos atacam universidades nos EUA - 26/11/2024 - Mundo

Republicanos atacam universidades nos EUA – 26/11/2024 – Mundo

Há muitos anos, para atrair mais estudantes, o professor da Florida International University Jean Muteba Rahier deu um toque especial ao nome de seu curso introdutório sobre antropologia da religião. Ele o chamou de Mito, Ritual e Misticismo.

Agora, Rahier acredita que o nome talvez tenha sido ousado demais para o ensino superior na Flórida.

A aula de Rahier, que foi identificada por curadores da universidade como tendo “conteúdo não comprovado, especulativo ou exploratório”, foi uma das quase duas dezenas de cursos removidos de um conjunto obrigatório de aulas que os alunos devem escolher para se formar.

O corte de aulas obrigatórias em todo o estado, que acontece muitas vezes com base em nomes e descrições de cursos, visa cumprir uma lei estadual aprovada no ano passado que restringiu a “política identitária” no currículo. A lei também proíbe aulas obrigatórias que “distorcem eventos históricos significativos” ou que incluem teorias de que “racismo sistêmico, machismo, opressão e privilégio são inerentes às instituições dos Estados Unidos“.

A Flórida tornou-se um laboratório para uma série de políticas conservadoras destinadas a limitar ou eliminar o que os republicanos descrevem como doutrinação woke nas escolas e faculdades do estado. Críticos entre professores e alunos disseram que isso infringe a autonomia universitária e pode reduzir a exposição dos alunos a cursos que consideram necessários para uma educação abrangente.

Em vez de tentar regular o que um professor pode ou não dizer —uma tática legalmente questionável— a nova estratégia está mirando cursos inteiros.

O escrutínio do estado sobre o currículo nas faculdades públicas pode servir de modelo para os esforços republicanos em outros estados, à medida que as faculdades se preparam para o retorno ao poder do presidente eleito Donald Trump, que prometeu “tomar nossas instituições educacionais de volta da esquerda radical”.

Já em outros lugares, legisladores voltaram sua atenção para os currículos das universidades.

O Senado de Wyoming aprovou este ano um projeto de lei, rejeitado pela Câmara, que teria cortado verbas para programas de estudos de gênero na Universidade de Wyoming. Na Texas A&M University, o conselho diretor orientou o presidente a eliminar programas “de baixa produção”, que incluíam um curso sobre sexualidades LGBTQIA+. Na Universidade do Norte do Texas, administradores removeram termos como “raça” e “gênero” de alguns títulos de cursos, uma medida que alguns professores acreditam ter sido em resposta a uma lei estadual que proíbe escritórios de diversidade, equidade e inclusão nos campi.

Os 22 cursos que os curadores marcaram para remoção na Florida International University são fortemente focados em ciências sociais, incluindo Introdução à Ásia Oriental, Comunicação Intercultural/Interracial e Trabalho e Globalização. Mais de duas dúzias de outros cursos atualizaram suas descrições para cumprir a lei. Esforços semelhantes —embora o número exato de cursos afetados não estivesse imediatamente claro— ocorreram nas universidades públicas do estado.

Ray Rodrigues, chanceler do Sistema Universitário Estadual da Flórida, disse que o esforço era fluido e não seria final até que o conselho responsável por supervisionar o sistema de 12 escolas se reunisse em janeiro.

“Quando o estado começa a regular o que podemos ensinar no nível universitário”, disse Katie Rainwater, cuja aula, Sociologia de Gênero, está marcada para remoção do currículo obrigatório, “então temos que questionar se a universidade pode cumprir sua função social, que é ser um lugar de livre investigação”.

Em uma entrevista, Rodrigues, aliado do governador Ron DeSantis, rejeitou as preocupações de liberdade acadêmica e autonomia expressas por membros do corpo docente, argumentando que o esforço não especifica o que um professor deve ensinar em sala de aula.

“Somos um mercado de ideias”, disse ele. “É isso que uma universidade é. Mas o gerente que administra o mercado determina onde dentro do mercado as ideias serão abrigadas.”

Rodrigues disse que queria tornar a educação geral “ampla e fundamental” e mais padronizada em todo o estado, e que fazer isso tornaria a transferência de créditos para estudantes vindos das faculdades comunitárias do estado mais tranquila.

Mas Rodrigues também disse que a Flórida estava tentando abordar uma preocupação do público de que o ensino superior era “mais sobre doutrinação do que educação”, citando uma pesquisa Gallup que descobriu que a confiança dos americanos no ensino superior despencou nos últimos anos.

Professores disseram que não foram envolvidos nas decisões, que desrespeitaram o processo tradicional para fazer mudanças curriculares, embora funcionários universitários neguem a acusação.

Os cursos ainda podem ser feitos como eletivas. Mas os professores temem que a matrícula possa despencar, prejudicando financeiramente os departamentos que os abrigam.

“Eles estão sufocando a matrícula de graduação em nossos cursos”, disse Rainwater. “A preocupação é que eles então possam retirar programas inteiros e justificá-lo dizendo que os cursos não estão lotando.”

Alguns dos esforços conservadores enfrentaram problemas legais. Na Flórida, um juiz federal declarou inconstitucionais partes da lei “Stop WOKE” do estado, que proibia escolas de ensinar coisas que pudessem fazer os alunos se sentirem desconfortáveis sobre um evento histórico por causa de sua raça.

Tania Cepero López, líder sindical do corpo docente, não é uma caricatura de uma professora universitária de esquerda. Instrutora de inglês na Florida International University, ela já votou em republicanos e é casada com um republicano conservador.

Ela disse que não mudou nada em suas aulas, mas que conhece muitos membros do corpo docente que mudaram descrições de cursos e planos de aula para evitar chamar atenção.

Ela assistiu horrorizada nos últimos anos, disse ela, ao ver a mesma interferência governamental na educação nos Estados Unidos que viu em Cuba, onde nasceu.

“Essas decisões estão vindo do estado, de pessoas que não estão ensinando, que não estão nas salas de aula, que não sabem quem são nossos alunos”, disse ela. “É assim que a doutrinação acontece. É assim que a censura acontece.”

Fonte: Folha de São Paulo

RELATED ARTICLES

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Advertisment -spot_img

Outras Notícias