O repórter Evan Gershkovich, do The Wall Street Journal, foi libertado em nova troca de prisioneiros com a Rússia nesta quinta-feira (1º), após ficar preso por 16 meses e ser condenado a 16 anos por espionagem, o que ele nega. Ele deve voltar aos Estados Unidos. A informação foi confirmada pelo próprio jornal.
Ele e o ex-fuzileiro naval dos EUA, Paul Whelan, estavam entre os 26 prisioneiros de sete países (EUA, Rússia, Alemanha, Polônia, Eslovênia, Noruega e Belarus) que foram libertados em uma grande troca na quinta-feira, disse a Presidência da Turquia.
A autoridade turca confirmou, ainda, que dez prisioneiros, incluindo dois menores, foram transferidos para a Rússia, 13 para a Alemanha e três para os EUA. A Turquia coordenou na capital Ancara e afirmou que sete aviões participaram no transporte dos prisioneiros trocados.
Os governos de EUA e Rússia ainda não haviam se manifestado.
A troca envolve, segundo o periódico britânico The Guardian, cidadãos presos no Ocidente por espionagem, homicídio e outros crimes. Gershkovich e Whelan são acusados pelos russos de espionagem.
Gerchkovitch foi detido em 29 de março de 2023 na cidade de Ecaterimburgo. Em 19 de julho, o jornalista foi condenado a 16 anos de prisão de forma anormalmente rápida.
Na época, a Rússia não apresentou nenhuma prova da suposta espionagem por parte do jornalista, de acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteiras. Gerchkovitch, a família dele, o Wall Street Journal e o governo dos EUA negam veementemente a acusação. Segundo o diário americano, ele tinha credenciais de imprensa fornecidas pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Sinais de uma grande troca de prisioneiros entre Rússia e Belarus de um lado e Estados Unidos, Alemanha e Eslovênia do outro, se multiplicaram na quinta-feira, mas não havia confirmação oficial do que pode ser a maior troca desde a Guerra Fria.
O site de rastreamento de voos Flightradar24 mostrou que um avião especial do governo russo usado em uma troca de prisioneiros anterior envolvendo os Estados Unidos e a Rússia voou de Moscou para o território russo de Kaliningrado, que faz fronteira com a Polônia e a Lituânia, antes de retornar à capital russa. Imagens da Reuters mostraram um avião do governo russo no solo na capital turca, Ancara.
O Pervy Otdel, uma associação especializada na defesa de pessoas em casos russos de traição e espionagem, disse que o voo poderia significar que uma troca de prisioneiros ocorreu na fronteira polonesa.
A Reuters não pôde confirmar essa informação e o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ao ser questionado sobre relatos de uma iminente grande troca de prisioneiros, disse: “Ainda não estou fazendo comentários sobre isso.”
Equipes da AFP afirmam ter assistido ao pouso de duas aeronaves, uma com cores russas e outra do tipo Falcon, no aeroporto civil de Ancara pouco antes das 16h30 locais (10h30 em Brasília).
A movimentação de troca de prisioneiros estava acontecendo há algum tempo. Paul Whelan e Vladimir Kara-Murza, dissidente russo-britânico, ambos presos na Rússia, haviam desaparecido repentinamente da vista, disseram seus advogados um dia antes, depois que pelo menos sete russos foram transferidos inesperadamente de suas prisões nos últimos dias.
Também houve relatos não confirmados da mídia russa de que outro dissidente, o ativista opositor Vadim Ostanin, foi retirado de sua prisão na Sibéria. Há relatos similares com outros prisioneiros.
A inteligência turca havia anunciado que estava coordenando uma extensa troca de prisioneiros, em meio a sinais de uma grande troca entre os dois lados.
“Nossa organização assumiu um grande papel de mediação nesta operação de troca, que é a mais abrangente do período recente”, disse a Agência Nacional de Inteligência (MIT) em um comunicado.
Tanto o Kremlin quanto a Casa Branca se recusaram a comentar quando questionados sobre a troca, antes de ela ser confirmada.
Ivan Pavlov, advogado de direitos humanos russo que vive em Praga e fundou o Pervy Otdel, disse que o desaparecimento de tantas pessoas com perfis semelhantes sugeria que as autoridades estavam se reunindo, provavelmente em Moscou, para a troca.
Ele disse que o presidente Vladimir Putin precisaria perdoá-los antes da troca, uma formalidade necessária. O veículo de mídia Important Stories chamou a atenção para o fato de que Putin, de acordo com um site do governo, assinou uma série de decretos secretos em 30 de julho que poderiam ser perdões de prisioneiros.
No Ocidente, os dissidentes são vistos por governos e ativistas como prisioneiros políticos detidos injustamente. Todos foram designados por Moscou, por diferentes motivos, como extremistas perigosos.
Entre aqueles que Moscou sinalizou que deseja está Vadim Krasikov, um russo cumprindo prisão perpétua na Alemanha por assassinar um dissidente checheno-georgiano exilado em um parque de Berlim.
Um tribunal esloveno condenou na quarta-feira dois russos a cumprir pena por espionagem e uso de identidades falsas, e disse que seriam deportados, relatou a agência de notícias estatal STA, uma ação que um canal de TV esloveno disse fazer parte da troca mais ampla.
Em dezembro de 2022, a Rússia trocou a estrela do basquete Brittney Griner, condenada a nove anos por ter cartuchos de vape contendo óleo de cannabis em sua bagagem, pelo traficante de armas Viktor Bout, cumprindo uma sentença de 25 anos nos EUA.
A maior troca de prisioneiros desde a Guerra Fria ocorreu em 2010, envolvendo 14 pessoas no total.