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Registro de ataque a Trump é nova foto icônica da história – 15/07/2024 – Mundo

Braço em riste, punho cerrado, sangue no rosto. Cercado por agentes do Serviço Secreto, Donald Trump mantém uma mirada firme para o horizonte, mesmo após sofrer um atentado a tiros na Pensilvânia. Ao fundo, uma bandeira dos Estados Unidos tremula placidamente.

A cena descrita acima poderia ser muito bem tirada de algum filme patriótico de Steven Spielberg ou de Oliver Stone. Mas é da mais jovem foto icônica da história. Produzida por Evan Vucci, fotógrafo da agência de notícias Associated Press, durante o atentado contra o ex-presidente, a imagem viralizou nas redes, ganhou o mundo e estampou a capa da revista Time.

Mas por que a foto de Vucci é mais impactante do que tantas outras tiradas na mesma ocasião? O que a torna tão emblemática?

Primeiramente, ele utiliza em sua composição um plano conhecido como “contra-plongée”. Grosso modo, é uma técnica que consiste em posicionar a objetiva de baixo para cima em relação ao objeto ou personagem a ser fotografado.

Largamente usado tanto no fotojornalismo como no cinema, o contra-plongée confere uma aura de superioridade ao personagem. Um exemplo perene deste enquadramento pode ser visto na histórica fotografia do guerrilheiro Che Guevara feita pelo cubano Alberto Korda.

A palavra “plongée” vem do francês e significa mergulho. Uma das ideias do enquadramento é transportar o leitor ou espectador para dentro da cena. Como se a câmera estivesse mergulhando, aumentando a subjetividade e a participação do receptor.

Quentin Tarantino é famoso por lançar mão do contra-plongée em todos os seus filmes. Quem não se lembra da clássica cena de Jules em Pulp Fiction? Tarantino posiciona a câmera quase ao chão para retratar o assassino vivido por Samuel Lee Jackson empunhando uma arma contra um jovem traficante enquanto declara versículos bíblicos do livro de Ezequiel.

Outra técnica de composição lançada por Vucci é a regra dos terços. Nela, o fotógrafo traça quatro linhas imaginárias, dividindo o quadro em nove terços. Pode-se colocar o objeto principal em um dos pontos formados pelas intersecções ou dentro dos próprios terços.

Propositalmente, o fotojornalista encaixa o rosto de Trump no centro da imagem, num dos terços imaginários, o que reforça a expressão altiva do ex-presidente. Impassível diante do sangue escorrendo em sua face, Trump mostra resiliência ao sobreviver ao ataque e estreita os laços com seus seguidores —e quiçá ganha empatia dos seus detratores.

A construção de Vucci conta ainda com mais dois elementos que conferem o poder de sua imagem: o braço em riste e a bandeira norte-americana ao fundo.

Com o braço erguido, o ex-presidente assume uma posição heroica. A simbologia do gesto se torna mais importante na medida em que estabelecemos conexão com outras imagens que fazem parte da cultura visual ocidental.

Podemos pegar como exemplos o quadro “A liberdade guiando o povo”, de Eugène Delacroix, “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, ou mesmo a foto de John Dominis que imortalizou os velocistas americanos Tommie Smith e John Carlos com gesto dos Black Panthers no pódio das Olimpíadas do México, em 1968.

Por fim, como em um filme, a imagem da bandeira americana trepida perfeitamente. Confundem-se ficção e realidade. A América da violência, da liberdade e da democracia, seja nas telas ou num comício na Pensilvânia.

Fonte: Folha de São Paulo

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