O regime do ditador Bashar al-Assad vem bombardeando hospitais em áreas controladas por rebeldes no noroeste da Síria, de acordo com relatos de ativistas que atuam nessas regiões.
Os combates se intensificam desde a semana passada, quando rebeldes ligados à milícia islamita Hayat Tahrir al-Sham (HTS) lançaram uma ofensiva surpresa e tomaram o controle de Aleppo, a segunda maior cidade do país.
“Não há segurança para as unidades de saúde neste conflito”, diz à Folha por mensagem de áudio Osama Abuelezz, gerente de projetos da Sociedade Médica Sírio-Americana (Sams, na sigla em inglês). “O regime ataca hospitais para ameaçar a população civil fora das áreas de seu controle.”
Ele relata que, nesta segunda-feira (2), por volta das 20h30 no horário local (14h30 em Brasília), jatos do regime sírio bombardearam o hospital Ibn Sina, na cidade de Idlib, deixando ao menos três mortos e 15 feridos.
A maternidade e a ala pediátrica ficaram fora de serviço, afetando bebês em incubadoras e pacientes na UTI. Ainda de acordo com Abuelezz, não há unidades alternativas para atender mulheres e crianças na região, e funcionários de outros hospitais suspenderam suas atividades por temerem novos ataques.
“Pedimos que os serviços de saúde sejam protegidos, mas o regime busca transformar hospitais em uma ferramenta para avançar seus objetivos militares e políticos”, afirma o gerente da Sams.
Os ataques contra hospitais e outros alvos civis já vinham ocorrendo antes da recente ofensiva da HTS, afirma Ammar al-Salmo, coordenador dos Capacetes Brancos, por chamada de vídeo. A entidade resgata vítimas de bombardeios em áreas controladas por rebeldes nas províncias de Idlib e Aleppo.
“As pessoas estão sendo atacadas diariamente, e nós não damos conta de atender todo mundo”, diz Salmo. Ele menciona o emprego de aeronaves russas e drones kamikaze iranianos —Moscou e Teerã estão entre os principais apoiadores do regime de Assad, ao lado da milícia libanesa Hezbollah.
Para ele, os rebeldes escolheram atacar agora justamente devido ao enfraquecimento do Hezbollah após meses de guerra com Israel. Um cessar-fogo no Líbano foi acordado dias antes do início da ofensiva da HTS na Síria.
Salmo diz acreditar que os rebeldes conseguiram avançar rapidamente pois o Exército sírio está desmoralizado. “O que aconteceu não foi uma retirada, e sim um colapso das tropas”, afirma, classificando os ataques do regime contra civis de terrorismo.
Por sua vez, o regime sírio promete recorrer à violência para derrotar os rebeldes. “Terroristas só conhecem a linguagem da força e nós iremos derrotá-los”, afirmou Assad no domingo (1º) durante telefonema com Badra Ganba, líder separatista da região da Abecásia, na Geórgia, de acordo com relato da agência estatal de notícias da Síria.
O coordenador dos Capacetes Brancos defende que a melhor forma de pôr fim à guerra civil iniciada em 2011 e permitir o retorno de mais de 5 milhões de refugiados é que Assad aceite deixar o poder.
Ele diz que uma transição negociada não necessariamente significaria entregar o país nas mãos de jihadistas. A HTS tem origens na Al Qaeda e é considerada um grupo terrorista pelo regime sírio e pelos Estados Unidos.
“O povo sírio não aceitaria ser governado por extremistas”, diz Salmo. “Quando o regime cair, os rebeldes desaparecerão.”