O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, que está internado em estado grave depois de sofrer um atentado a tiros nesta quarta-feira (15), é um político veterano e antigo militante comunista que surfou em diferentes correntes políticas para, agora, comandar um governo considerado aliado à ultradireita e considerado pró-Rússia por opositores.
O mandato atual de Fico, 59, começou em outubro de 2023, depois de eleições parlamentares nas quais seu partido, o Smer-SD, terminou na frente, com 23% dos votos. Antes disso, Fico foi premiê por dois mandatos, de 2006 a 2010 e de novo de 2012 a 2018, períodos marcados por escândalos de corrupção e reformas criticadas.
Desde que voltou ao poder em outubro, Fico tem gerado polêmica por dizer que a Ucrânia deve ceder territórios à Rússia para encerrar a guerra, posição que é completamente rejeitada por Kiev e por aliados ocidentais.
A Eslováquia é membro da União Europeia e da Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA, e foi um dos países europeus que mais ajudou a Ucrânia desde o início da invasão russa, considerado dados em proporção ao PIB.
Mas Fico decidiu interromper o fornecimento de ajuda militar, cumprindo a promessa de campanha que o levou ao poder nas últimas eleições. Depois de terminar na frente, Fico formou um governo liderando uma coalizão do Smer com os partidos Hlas-SD e SNS, uma sigla nacionalista de ultradireita.
A decisão de se aliar ao SNS, com quem Fico compartilha visões anti-imigrantes, custou ao seu partido o apoio do Partido Socialista Europeu, aliança de sociais-democratas no Parlamento da União Europeia —o PSE suspendeu o Smer e o Hlas.
Em eleições anteriores, Fico comemorou a adoção do euro na Eslováquia como uma “decisão histórica”, mas durante a última campanha, criticou a UE, a Otan e a Ucrânia na tentativa de atrair os eleitores à direita.
Além disso, o premiê causou controvérsia ao defender que não permitiria a prisão em seu país do presidente russo, Vladimir Putin, que é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional desde março de 2023.
Fico é advogado e iniciou sua carreira política no Partido Comunista da Tchecoslováquia, antes da queda do bloco soviético e do fim da Guerra Fria. Com a chegada do capitalismo e a dissolução do país, dividido em República Tcheca e Eslováquia, Fico atuou como representante eslovaco no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo, entre 1994 e 2000.
Em 1998, o Partido da Esquerda Democrática, herdeiro do Partido Comunista, preteriu Fico para um cargo no governo, decisão que o levou a sair da sigla e fundar o social-democrata Smer-SD, que lidera até hoje.
A aposta deu certo e, em 2006, o Smer-SD conquistou uma vitória esmagadora que levou Fico ao cargo de primeiro-ministro. Na época, o premiê se aliou pela primeira vez ao SNS, e aproveitou a crise financeira global de 2008 para reforçar sua popularidade ao se recusar a impor medidas de austeridade.
Em 2015, quando a Europa foi sacudida por uma onda de refugiados, Fico defendeu uma postura dura em relação à imigração e se recusou a “dar espaço” a uma comunidade muçulmana na Eslováquia, em contraste à posição de membros importantes da UE, como a premiê alemã Angela Merkel. Fico também criticou o programa de cotas da UE para redistribuir os refugiados.
O Smer-SD venceu as eleições de 2016, mas seu mandato como primeiro-ministro terminou dois anos depois com os assassinatos do jornalista investigativo Jan Kuciak e sua noiva, que foram baleados em fevereiro de 2018. Fico renunciou ao cargo depois de uma onda de protestos contra o governo —Kuciak denunciava vínculos entre a máfia italiana e o governo de Fico em seu último artigo, publicado de forma póstuma.
Apesar da renúncia, Fico manteve sua posição de destaque no partido que ajudou a fundar, e voltou ao cargo em 2023, conduzindo uma campanha contra o apoio à Ucrânia e com acenos à direita, se opondo, por exemplo, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.