Protestos de fazendeiros na França exigindo melhores condições de trabalho e de vida podem se intensificar e resultar em bloqueios de estradas em Paris nesta semana, disse o chefe do maior sindicato agrícola do país nesta quarta-feira (24).
“Não estou descartando nenhuma opção”, afirmou Arnaud Rousseau, presidente do sindicato agrícola FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos dos Agricultores), quando questionado pela televisão francesa se as manifestações poderiam afetar a região de Paris.
Os atos bloquearam muitas redes de transporte importantes no sul da França esta semana e há sinais de que podem se alastrar. Eles são o primeiro grande desafio para o novo primeiro-ministro, Gabriel Attal, e acontecem depois de se espalharem por países vizinhos, como Alemanha e Holanda, num momento em que a campanha para as eleições do Parlamento Europeu, em junho, ganha força.
Na quarta, o líder sindical disse à uma rádio que o objetivo é “obter respostas rápidas” do governo às demandas da categoria, acrescentando que apresentaria uma lista com cerca de 40 reivindicações. As mais urgentes são o alto preço do diesel não rodoviário (combustível obrigatório de máquinas agrícolas na França), a competição com importações baratas (especialmente de grãos ucranianos) e a política de baixos preços para o consumidor final do governo de Emmanuel Macron.
A médio prazo, os fazendeiros citam ainda o acordo verde da União Europeia, que impõe cada vez mais padrões ambientais à produção agrícola.
Independente da demanda, todos da classe partilham a mesma preocupação sobre o futuro de um setor simbólico na França, entre o desejo de produzir e exportar e a necessidade de reduzir o seu impacto na biodiversidade e no clima. O país é o maior produtor agrícola da União Europeia.
“O preço do combustível, todos os impostos e até mesmo em relação às gerações futuras. Eles não fazem você querer se acomodar”, disse à agência de notícias AFP Yoan Joannic, um agricultor de 20 anos.
Até agora nos protestos, além de fecharem estradas os manifestantes lançaram um fardo de palha num restaurante do McDonald’s em Agen (sudoeste), despejaram esterco em frente a prefeituras e bloquearam uma fábrica da Lactalis, número um do mundo no setor de laticínios.
Sylvain Délye, um criador de vacas de 50 anos do departamento de Orne (noroeste), afirmou que a empresa “paga apenas € 403” por 1.000 litros de leite, enquanto seus rivais pagam € 440.
Diante do prolongamento dos atos, o governo multiplica os contatos com representantes agrícolas. O premiê se reuniu com os diferentes sindicatos e fez avançar na Câmara medidas que poderiam ser implementadas rapidamente, como a melhor remuneração dos agricultores pelos gigantes da indústria agroalimentar e da distribuição.