Em resposta a protestos pró-Palestina e ao aumento de críticas a Israel, centenas de milhares de pessoas se reuniram em Washington nesta terça-feira (14) em uma demonstração de apoio a Tel Aviv.
“Não a um cessar-fogo”, “nunca mais” e “tragam eles para casa” foram as principais palavras de ordem entoadas pelo público. Os manifestantes também fizeram uma oração pelas IDF, as Forças de Defesa de Israel.
“Esse é o maior protesto pró-Israel na história”, disse William Daroff, presidente da Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas, uma das entidades organizadoras da ação. Segundo ele, os atos reuniram cerca de 290 mil pessoas.
Um palco foi montado no National Mall, emoldurando o Capitólio ao fundo. Os presidentes do Senado, o democrata Chuck Schumer, e da Câmara, o republicano Mike Johnson, discursaram um após o outro, reforçando o apoio bipartidário do Congresso a Tel Aviv. Também se manifestaram os líderes da minoria de cada partido nas duas Casas, o deputado Hakeem Jeffries e a republicana Joni Ernst.
“Os EUA sempre estiveram ao lado de Israel e vamos fazer de tudo para que isso nunca mude”, disse Schumer, que é judeu. Seu discurso foi interrompido por gritos de “USA” (EUA, em inglês). “Poucas questões em Washington uniriam os dois partidos tão facilmente”, afirmou Johnson.
Ecoando o discurso do presidente israelense, Isaac Herzog, que participou do protesto por vídeo, Johnson disse que o conflito é uma luta entre “o bem e o mal” e que os pedidos por um cessar-fogo são “revoltantes” —a posição oficial dos EUA é que um cessar-fogo serviria para fortalecer o Hamas.
Jeffries lembrou o pedido de verba suplementar para apoiar Tel Aviv e a Ucrânia feito pelo presidente Joe Biden ao Congresso. A demanda está parada no Legislativo devido a divisões internas entre os deputados. Ressaltando o que chamou de “relação especial” dos EUA com Israel, ele disse que também é importante garantir a paz com os palestinos.
“Estamos aqui como republicanos e democratas para garantir a vocês que não vamos recuar e nos encolher de medo. Não vamos nos encolher de medo como muitos no mundo já fizeram. Não vamos ficar quietos enquanto o antissemitismo é promovido em salas de aula e campi”, disse a senadora Ernst.
Diversas organizações judaicas no país, de escolas a sinagogas, organizaram o transporte de manifestantes para a marcha –muitos ônibus estavam estacionados no entorno do National Mall, que foi alvo também de um forte esquema de segurança, diante do temor de algum tipo de ataque ao evento.
Rachel Moerdler-Green, 16, foi uma das mais de mil pessoas que vieram nos 20 ônibus fretados pela SAR Academy, uma instituição ortodoxa de Nova York. Eles também forneceram bandeiras e camisetas aos participantes.
Ela diz que essa é a terceira manifestação pró-Israel da qual ela participa, mas a maior de todas –as outras duas foram em sua cidade natal. Questionada sobre o que acha dos pedidos de cessar-fogo, a adolescente teve dificuldade para responder. “Não sei muito bem o que dizer. Mas acho que um cessar-fogo significa que não vai ter Israel”, afirmou ela, ecoando argumento dos críticos a uma pausa no conflito.
“Um cessar-fogo agora vai dar força para o Hamas”, diz Myra Marshall, 65, que administra uma instituição de repouso em Lexington, em Massachusetts, a 750 km de Washington. Judia, ela carregava uma bandeira com as cores do arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQIA+, com uma estrela de Davi.
Ela diz estar satisfeita com o apoio dado por Biden a Israel, mas indignada com as manifestações críticas a Tel Aviv por alas à esquerda do Partido Democrata. Afirma ainda que, desde então, deixou de se identificar como uma liberal progressista. “Eles estão tentando transformar isso em uma questão sobre libertação, mas não tem nada a ver com isso. O Hamas é o único que está tentando fazer um genocídio.”
Questionada sobre as mortes de civis em Gaza, que já ultrapassam as 10 mil, Marshall diz que “seu coração está com cada palestino que não é parte do Hamas e que não torce pelo Hamas”, citando registros de comemorações após os ataques de 7 de outubro.
Omer Horovitz, 18, é israelense e diz que estava no país quando os ataques aconteceram. Ele conseguiu viajar aos EUA pouco depois como parte de um programa para universitários judeus. “Os ataques foram surpreendentes, mas eu não me preocupei, porque sei que ao fim, nós prevaleceremos”, afirma ele, quando questionado sobre o 7 de Outubro. Questionado sobre o que acha que vai acontecer com Gaza, ele afirma que “eles devem continuar existindo, não serão eliminados, se não Israel ouviria muito dos outros países”.
Horovitz vê um cessar-fogo como algo “estranho” –na sua experiência, é algo que acontece de tempos em tempos, mas depois sempre voltam a ocorrer ataques. Para ele, uma solução de dois Estados ainda é possível, mas muito no futuro.
Já Michal Avraham, 39, israelense que mora nos EUA há 15 anos, diz não ver possibilidade de dois Estados. “O Hamas é terrorista. Israel precisa eliminar o Hamas de Gaza”, afirma.
Questionada sobre as mortes de civis palestinos resultado das operações militares de Tel Aviv e da crise humanitária na Faixa de Gaza, ela responde que “não é nosso problema, é deles. Os líderes [de Israel] precisam se preocupar com o Hamas”.
Ela veio a Washington de Nova Jersey acompanhada do marido. Ambos são do sul de Israel, e ela diz que uma cunhada mora em um dos kibutzim atacados pelo Hamas e sobreviveu à violência se escondendo em um abrigo de bombas com o restante da família.
Diferentemente do protesto pró-Palestina, realizado em 4 de novembro, em que milhares de pessoas percorreram o centro da capital americana, o evento desta terça concentrou-se em uma única área, que foi cercada por grades. Pontos de inspeção de segurança para convidados e imprensa, por exemplo, foram montados.