O presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol foi proibido de deixar o país após a tentativa fracassada de impor a lei marcial, disse um funcionário do Ministério da Justiça nesta segunda-feira (9), em meio a crescentes pedidos para que ele renuncie e a uma crise de liderança cada vez mais profunda.
Yoon pediu desculpas pela tentativa mal-sucedida e disse que estava deixando seu destino político e legal para seu partido governante, o Partido do Poder Popular (PPP), mas não renunciou. Ele se tornou alvo de uma investigação criminal, de acordo com relatos da mídia local.
Na segunda-feira, o Ministério da Defesa afirmou que Yoon ainda é legalmente o comandante em chefe, mas a crescente dissidência entre oficiais militares seniores contra o presidente lançou dúvidas sobre seu controle do poder.
Oh Dong-woon, chefe do Escritório de Investigação de Corrupção para Funcionários de Alto Escalão, disse que proibiu Yoon de viajar para o exterior, quando questionado em uma audiência parlamentar sobre quais ações foram tomadas contra o presidente.
Um funcionário do Ministério da Justiça, Bae Sang-up, afirmou ao comitê que a ordem de proibição de viagem foi executada.
O escritório foi estabelecido em 2021 para investigar funcionários de alto escalão, incluindo o presidente e seus familiares, mas não tem autoridade para processá-lo. Em vez disso, é legalmente obrigado a encaminhar o assunto a promotores.
Embora Yoon tenha sobrevivido a uma votação de impeachment no parlamento no sábado (7), a decisão de seu partido de delegar a autoridade presidencial ao primeiro-ministro mergulhou o importante aliado dos EUA em uma crise constitucional.
Yoon recusou pedidos, incluindo alguns de dentro do seu próprio partido governante, para renunciar, mas seu futuro pareceu mais incerto no fim de semana, quando a agência de notícias Yonhap informou que ele está sob investigação criminal por suposta traição.
Promotores prenderam no domingo o ex-ministro da Defesa Kim Yong-hyun por seu suposto papel na declaração de lei marcial em 3 de dezembro, informou a Yonhap.
Yoon deu ao Exército amplos poderes de emergência em 3 de dezembro para erradicar o que ele chamou de “forças antiestatais” e opositores políticos. Ele revogou a ordem seis horas depois, após o parlamento votar contra o decreto.
Em meio à reação, vários oficiais militares, incluindo o ministro da Defesa interino, disseram que não seguiriam nenhuma nova ordem para impor a lei marcial.
O principal partido de oposição, o Partido Democrático (DP), pediu que Yoon fosse destituído de sua autoridade sobre o Exército. O DP também exigiu a prisão de Yoon e de quaisquer oficiais militares implicados no fiasco da lei marcial.
O chefe de uma força-tarefa estabelecida pelo partido de Yoon para lidar com sua eventual e “ordenada” renúncia, Lee Yang-soo, disse que a equipe consideraria todas as opções e o momento para a saída antecipada do presidente “sem quaisquer limitações”.
No domingo, o líder do PPP, Han Dong-hoon, disse que o presidente seria excluído de assuntos externos e outros assuntos de estado, e o primeiro-ministro Han Duck-soo gerenciaria os assuntos do governo.
Essa proposta atraiu críticas da oposição, que diz ser inconstitucional. Afirma que Yoon deve sofrer impeachment ou renunciar e enfrentar processo legal.
Chang Young-soo, professor da Escola de Direito da Universidade da Coreia, afirmou que o presidente poderia delegar autoridade ao primeiro-ministro, especialmente seu controle sobre o Exército, mas há debate sobre se ele tem autoridade para atuar como chefe de estado em questões diplomáticas.
“Além disso, ao contrário de um vice-presidente dos EUA, um primeiro-ministro sul-coreano não é eleito, o que significa que a legitimidade democrática é fraca. Portanto, também será uma questão de quanto tempo esse sistema pode continuar”.
O líder da oposição Lee Jae-myung disse nesta segunda que a crise política ameaça causar danos irreversíveis à quarta maior economia da Ásia, um importante fornecedor global de chips de memória.
O Ministério das Finanças da Coreia do Sul e os reguladores disseram que fariam todos os esforços para estabilizar os mercados financeiros, implementando planos de contingência e aumentando a liquidez até o final de dezembro.
No mais recente sinal de dissidência dentro das fileiras militares, o comandante das Forças Especiais da Coreia do Sul afirmou que foi ordenado a enviar suas tropas ao parlamento na semana passada para impedir uma votação para rejeitar a lei marcial.
O coronel Kim Hyun-tae, oficial comandante do 707º Grupo de Missões Especiais, disse que assumiu a responsabilidade pelas ações de suas tropas, mas estava agindo sob ordens do então ministro da Defesa Kim Yong-hyun.
“Todos nós fomos vítimas usadas pelo ex-ministro da Defesa”, declarou a repórteres.
Os Estados Unidos têm 28.500 tropas estacionadas na Coreia do Sul, um legado da Guerra da Coreia de 1950-1953.
A turbulência em Seul ocorre em um momento geopolítico importante na região, com a Coreia do Norte supostamente enviando tropas para ajudar a guerra da Rússia contra a Ucrânia em meio a crescentes laços militares entre Moscou e Pyongyang.
O ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Cho Tae-yul, disse aos funcionários do ministério: “Devemos também ser incansáveis em nossos esforços para restaurar a confiança de nossos parceiros e mais uma vez corresponder às expectativas da comunidade internacional em relação à Coreia.”