O presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil), Claudio Lottenberg, diz ter viajado a Israel com o objetivo de fortalecer as relações entre os países. Após encontros com autoridades israelenses, porém, ele relata que o sentimento predominante é o de frustração com o posicionamento do governo brasileiro em relação ao conflito na Faixa de Gaza e que ameaça se espalhar pelo Oriente Médio.
Lottenberg se reuniu com o presidente israelense, Isaac Herzog, e representantes do Ministério das Relações Exteriores para transmitir a mensagem de que a população brasileira não necessariamente concorda com as manifestações do governo. “[O presidente Herzog] manifestou preocupação porque o Brasil tem tido uma posição sistemática contrária à Israel e colocado números que não são verdadeiros.”
Ele se referia a uma gafe cometida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no começo do mês, quando o líder brasileiro disse que 12,3 milhões de crianças tinham morrido na guerra em Gaza —a população total do território palestino é estimada em 2,4 milhões e, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, 34 mil pessoas haviam morrido na faixa desde o início do conflito até esta sexta (19).
O entrevero mais recente ocorreu no último dia 13, quando entidades judaicas no Brasil rechaçaram a nota do governo sobre o ataque do Irã contra Israel. Na ocasião, o Itamaraty divulgou comunicado dizendo que o país acompanhava “com grave preocupação” a ofensiva contra o território israelense, mas não condenou Teerã.
Lottenberg desembarcou em Israel horas antes do ataque iraniano, uma ação sem precedentes em que aproximadamente 300 mísseis e drones foram lançados —quase todos interceptados pelas defesas de Tel Aviv e de aliados. Ele conta que teve de sair às pressas durante a madrugada para o bunker do hotel. “Ficamos lá por um período relativamente curto, de meia hora, mas foi um momento no qual a gente fez uma viagem para um cenário que é muito duro porque tem de lidar com uma série de incertezas, com o medo”, disse.
Nos dias seguintes, Lottenberg visitou kibutzim invadidos por terroristas do Hamas, onde se deparou com um cenário desolador mais de seis meses após os maiores ataques já sofridos por Israel, em 7 de outubro. Ele conta ter visto casas queimadas e cômodos ainda manchados de sangue, além de uma espécie de “cemitério de carros”, com veículos amontoados que foram abandonados durante os atentados.
Ao encontrar familiares das vítimas que foram sequestradas por terroristas, algumas das quais permanecem em cativeiro na Faixa de Gaza, Lottenberg também diz ter ouvido queixas em relação ao governo brasileiro. Uma delas, segundo ele, foi feita por Hen Mahluf, filha de Michel Nisenbaum, o brasileiro-israelense sequestrado pelo Hamas e cujo paradeiro permanece desconhecido.
“Ela estava muito revoltada. Primeiro pelo que aconteceu com o pai. E ela diz que o presidente Lula prometeu que intercederia, mas a sensação é a de que o Brasil não tem feito todo o esforço”, diz Lottenberg. “Ela está muito abatida porque não sabe se o pai está vivo ou não, provavelmente vítima de uma série de agressões e numa condição humilhante.”
Após quatro dias de viagem, Lottenberg diz que o maior aprendizado é ter percebido que a guerra se desenrola entre fundamentalistas e extremistas, apoiados pelo regime do Irã, contra o mundo ocidental.
Entidades judaicas vêm criticando os posicionamentos do presidente Lula e do Itamaraty desde os ataques terroristas em 7 de outubro e a subsequente guerra em Gaza.
Em fevereiro, Lula comparou as ações militares de Israel na Faixa de Gaza a um genocídio e fez um paralelo com o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler. As falas levaram o Ministério das Relações Exteriores do governo de Binyamin Netanyahu a declarar o líder brasileiro “persona non grata”.