O opositor da ditadura da Venezuela Edmundo González apareceu em um vídeo publicado pelo primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, após dias de discrição em Madri. O ex-diplomata ainda não havia sido visto desde o início de seu refúgio no país europeu, no último domingo (8).
“Dou calorosas boas-vindas ao nosso país a Edmundo González Urrutia, a quem recebemos mostrando o compromisso humanitário e a solidariedade da Espanha com os venezuelanos”, escreveu Pedro Sánchez em uma publicação na rede social X nesta quinta-feira (12).
O vídeo que acompanha a mensagem mostra os dois, ao lado da filha do opositor venezuelano, caminhando pelos jardins do Palácio da Moncloa, sede do governo espanhol. “A Espanha continua trabalhando a favor da democracia, do diálogo e dos direitos fundamentais do povo irmão da Venezuela”, acrescentou o premiê.
O encontro se deu um dia após a Câmara dos Deputados da Espanha aprovar uma moção na qual reconhece González como legítimo presidente venezuelano a despeito da votação contrária do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) de Sánchez. O premiê já disse que não vai seguir o pedido.
A sigla diz não querer repetir o que ocorreu com Juan Guaidó, opositor atualmente caído no esquecimento após ser reconhecido como presidente por mais de 50 países em 2019. Naquele ano, o crítico do regime e líder da Assembleia Nacional se autoproclamou presidente da Venezuela, o que teve poucos efeitos práticos.
A situação agora é diferente —tanto o ditador Nicolás Maduro quanto González dizem ter vencido as eleições presidenciais do final de julho, mas apenas a oposição apresentou as atas eleitorais recolhidas no dia pleito, que foram validadas por diversas organizações independentes.
A publicação dos documentos é justamente um dos motivos pelos quais o opositor fugiu da Venezuela em um voo da Força Aérea Espanhola. A aparelhada justiça venezuelana havia emitido um mandado de prisão contra González após acusações de conspiração.
Sánchez diz que vai continuar seguindo a posição da União Europeia —não reconhecer a vitória de nenhum dos dois e pedir a divulgação das atas de votação do regime, como exige a legislação venezuelana. Dentro da Espanha, porém, a crise no país sul-americano virou um campo de batalha política.
No domingo, o eurodeputado do conservador PP (Partido Popular) Esteban González Pons afirmou que receber González sem reconhecer sua vitória “não se trata de fazer um favor à democracia, mas sim de tirar um problema da ditadura”. Questionado sobre o assunto na terça (10), durante uma viagem à China, Sánchez afirmou que qualquer leitura política sobre o refúgio é inapropriada. “É uma questão de humanidade”, disse a jornalistas.
Após a votação, o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, saudou os venezuelanos que protestavam nas imediações do Palácio das Cortes e afirmou que trabalharia pelo reconhecimento de González. O governo da Espanha calcula que quase 280 mil venezuelanos vivem no país, incluindo vários líderes da oposição.
No mesmo dia, o presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, propôs o rompimento das relações diplomáticas, consulares e comerciais com o país europeu e acusou a Espanha de se tornar um refúgio para homicidas e golpistas.
“Que se retirem daqui todos os representantes da delegação do governo do Reino da Espanha e todos os consulados e todos os cônsules, e que tiremos os nossos de lá”, clamou.
Diante da possibilidade de ruptura das relações, a porta-voz do governo espanhol, Pilar Alegría, afirmou nesta quinta que o país tem “interesse em trabalhar para manter as melhores relações com o povo venezuelano”. “A embaixada na Venezuela está trabalhando com absoluta normalidade”, acrescentou.