Em um mundo cada vez mais globalizado, a circulação de pessoas deveria ser vista como uma oportunidade de enriquecimento cultural mútuo. No entanto, o aumento do número de imigrantes brasileiros em Portugal tem também despertado relatos de xenofobia.
Mas seria esse um fenômeno novo ou simplesmente uma manifestação amplificada pelo desconhecimento?
O desconhecimento gera medo, e o medo, por sua vez, alimenta o ódio. Como Edward Said escreveu em “Orientalismo”, a propósito do Islã, também o intenso movimento migratório do Brasil para Portugal está aumentando a percepção de desconhecimento (ou de conhecimento distorcido), levando a estereótipos e preconceitos que alimentam hostilidades. É urgente agir.
O aumento do número de imigrantes brasileiros no país luso gera um natural aumento de episódios de potencial conflito e consequente destaque na mídia sobre racismo e xenofobia. Assistimos, porém, a um fenômeno complexo que não pode ser reduzido apenas a uma variável.
É verdade que Portugal, sendo uma nação que partilha laços históricos e linguísticos com o Brasil, tem neste incremento do número de brasileiros trabalhando em seu território uma oportunidade única para resolver seu problema demográfico. Mas, para ser bem-sucedido, o país precisa construir uma coexistência mais harmoniosa com essa população através da criação de políticas públicas educacionais e culturais.
O reconhecimento da diversidade é o primeiro e crucial passo a ser dado para não permitir que a ignorância seja utilizada como arma por extremistas políticos ou jornais sensacionalistas. É urgente criar programas de intercâmbio cultural, como por exemplo aulas de história e cultura brasileira nas escolas, e aumentar o número de eventos que possam servir como pontes de entendimento.
Além disso, dada a sua importância no desenvolvimento futuro de Portugal, seria benéfico criar campanhas que facilitem a integração dos imigrantes e mostrem como eles são necessários, garantindo que sejam vistos não como “os outros”, mas como contribuintes valiosos para a sociedade que hoje Portugal não pode dispensar.
São também urgentes todos os esforços de “diplomacia cidadã” que inspirem os políticos a promover medidas de interação e entendimento mútuo. A iniciativa deve vir não apenas dos governos, mas também de organizações civis, meios de comunicação e, claro, cidadãos.
Mas, nesta era de informação, o desconhecimento é uma escolha. Uma perigosa escolha, acrescento, em que o maior risco é o surgimento de um cenário em que o ódio seja naturalizado e a intolerância se torne a norma.
Apenas o investimento em conhecimento mútuo pode atuar como um antídoto contra o medo e o ódio. Apenas esse conhecimento e essa partilha nos ajudarão a criar a sociedade coesa e integrada de que precisamos.
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