No palco das negociações internacionais, o prolongado impasse no acordo entre a União Europeia e o Mercosul desdobra-se como uma novela mexicana de oportunismos políticos e oportunidades perdidas.
Uma incapacidade política, que não reflete apenas as complexidades inerentes ao comércio global; mais profundamente, espelha as agitações políticas internas que atualmente dominam os países-chave de ambos os blocos.
A França, a Alemanha, o Brasil e a Argentina enfrentam seus próprios dilemas, cada um navegando por águas turbulentas de suas políticas internas, economias desafiadoras e questões ambientais urgentes.
Para os países do Mercosul, o acordo prometia um acesso expandido ao mercado europeu, uma oportunidade de ouro para estimular a economia e diversificar as exportações. Para a União Europeia, representava uma porta de entrada para os vibrantes mercados da América do Sul, com vasto potencial para novos investimentos e comércio. Mas nem tudo isso parece bastar.
Mais do que uma questão de comércio, o impasse no acordo revela um profundo mal-estar civilizatório. As agendas políticas internas de cada país têm frequentemente sequestrado as negociações, com líderes políticos utilizando o tema como ferramenta nas suas lutas domésticas.
Na França, o presidente Macron enfrenta o desafio de conciliar as exigências dos agricultores com as pressões ambientais, em meio a um ambiente de crescente descontentamento social e populismo. Na Alemanha, as ambições de uma transição verde colidem com a necessidade de manter a competitividade industrial.
No Brasil, questões de gestão ambiental e desmatamento tornam-se moeda de troca em questões políticas e energéticas, dentro e fora do Brasil; enquanto a Argentina de Milei lida com a urgência de estabilização econômica em meio a insanidades políticas e instabilidades financeiras.
O estagnado acordo UE-Mercosul transcende o simples fracasso de negociações comerciais. Hoje representa um amplo falhanço em responder aos desafios contemporâneos da civilização. A incapacidade de harmonizar interesses econômicos com ações ambientais revela uma visão míope e um compromisso vacilante com o futuro coletivo.
Este cenário de oportunidades perdidas não é apenas a crônica de um acordo não realizado; é um reflexo desencantado de um momento em que lideranças políticas parecem incapazes de transcender disputas internas para abordar desafios globais.
Permanece a questão: como, diante das crises econômicas, políticas e ambientais, os países estão condenados a um imenso “brexit” ou podem encontrar um caminho comum para avançar juntos, em direção a um futuro compartilhado mais promissor?
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