Em viagem ao México para comparecer à cerimônia de posse da nova líder do país, Claudia Sheinbaum, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) questionou nesta segunda (30) as críticas feitas a ele devido a falta de menção à crise na Venezuela em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, que ocorreu na semana passada.
“Por que eu tenho que falar da Venezuela em todo lugar? Eu não falo nem da Janja em todo lugar. Eu falo do que me interessa falar. O discurso que eu queria fazer era aquele. E foi muito bom”, afirmou Lula.
Em Nova York, Lula abordou as guerras na Ucrânia e em Gaza. Também manifestou solidariedade a Cuba e criticou as sanções unilaterais impostas pelos Estados Unidos contra a ilha. Mas não fez qualquer menção à deriva autoritária na Venezuela. O ditador Nicolás Maduro é aliado histórico do petista, mas os dois têm se distanciado na medida em que o chavista aprofunda a repressão contra adversários.
“No momento certo, a gente vai discutir [a crise]. Eu tenho muito interesse que a Venezuela volte à normalidade democrática. É um país que eu tenho boa relação, que tem 1.600 km de fronteira com o Brasil. É um país que eu quero que esteja em paz”, continuou Lula. “E é preciso criar as condições para a gente começar. […] É preciso encontrar um jeito da gente retomar uma convivência democrática.”
A situação na Venezuela se agravou depois do pleito de julho. Maduro foi declarado vencedor pelo órgão eleitoral controlado pelo chavismo, mas o resultado foi prontamente questionado por governos da região.
Num primeiro momento, Lula costurou uma resposta com os esquerdistas Gustavo Petro (Colômbia) e Andrés Manuel López Obrador (México). Basicamente, os três países vinham pressionando pela divulgação de atas eleitorais que comprovariam o resultado anunciado —o que nunca ocorreu.
O México abandonou a articulação poucas semanas depois, e Brasil e Colômbia seguiram publicando notas sobre acontecimentos na Venezuela. Mesmo a ação da dupla, no entanto, esfriou na medida em que Maduro não enviou qualquer sinal de moderação.
Lula desembarcou no México no domingo (29). Nesta segunda, ele esteve na inauguração do Fórum Empresarial México-Brasil acompanhado do ministro da Economia mexicana, Marcelo Ebrard, e de empresários dos dois países.
Durante o evento, Lula voltou a se manifestar de forma contrária à Guerra da Ucrânia, afirmando que os conflitos armados “não trazem benefícios para ninguém”. Também comentou os ataques feitos por Israel no Líbano. “Eu condeno o que Israel está fazendo no Líbano agora. E sou contra a carnificina que tem sido feita na Faixa de Gaza”, disse, repudiando o que chamou de “massacres desnecessários”.
Lula concluiu sua menção à guerra com a frase “o Brasil é um país de paz”. “Não quero brigar com ninguém, quero fazer negócios”, afirmou.
O Brasil é a oitava maior economia do mundo, e o México, a décima segunda. Os países, porém, não são grandes parceiros comerciais. No caso do Brasil, a China é seu principal parceiro, e no caso do México, são os EUA.
“Sei da importância do comércio com os Estados Unidos, mas isso não impede que nossos parceiros mexicanos olhem para o sul e saibam que encontrarão muitas oportunidades no Brasil”, disse Lula. Ele também enfatizou a importância da aprovação da reforma tributária brasileira, “algo com que se sonhava há pelo menos 40 anos” e que, segundo ele, dará garantias aos empresários locais e estrangeiros.
Lula também instou empresários mexicanos a estreitar os laços com o restante da América Latina. Sem deixar de lado seu lado social, ele mencionou que o crescimento econômico é necessário, mas que deve sempre ser compartilhado de forma equitativa.
Durante seu discurso, o presidente repetiu em várias ocasiões que a confiança no Brasil deve ser restaurada, pois durante quatro anos o país “viveu no obscurantismo” e isolado do resto do mundo. Agora, acrescentou, seu trabalho é o de “abrir as portas”.
Para abrir pontes mais diretas com o México, Lula convidou a próxima presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, para participar do G20, que será realizado no Rio de Janeiro no final de 2024. A cerimônia de posse da líder ocorrerá nesta terça (1º).
O presidente brasileiro concluiu dizendo que tanto os mexicanos quanto os brasileiros devem se comprometer a gerar maior fraternidade: “não tenham medo do Brasil. Vamos fazer negócios”.