Há muito tempo, o Egito desempenha um papel de mediador não somente entre Israel e os palestinos, mas também entre as principais facções palestinas. O país foi o primeiro Estado árabe a fazer a paz com Israel em 1978 —depois de travar várias guerras com Tel Aviv.
Agora, o foco está no controle do Egito sobre uma das duas rotas terrestres que saem da Faixa de Gaza — a passagem de Rafah.
Milhares de palestinos aguardam no lado de Gaza da fronteira, enquanto centenas de caminhões que transportam ajuda necessária estão estacionados no lado egípcio. Muitos outros comboios de ajuda também se dirigem para a fronteira.
Ainda não houve, porém, acordo sobre a abertura da passagem, que teria sido atingida por vários ataques israelenses nos últimos dias.
Cairo manteve duras restrições à circulação através da passagem de Rafah durante muitos anos, a tal ponto que muitos palestinos acusaram o Egito de reforçar o bloqueio de Israel a Gaza em vigor desde que o Hamas assumiu o poder sobre a região em 2007.
As restrições têm a ver principalmente com questões de segurança no norte do Sinai, onde as autoridades egípcias estão há muito tempo envolvidas num conflito com jihadistas ligados à Al-Qaeda.
Abertura sem garantias?
Mas a atual relutância do Egito em abrir a passagem sem condições e garantias claras pode ter mais a ver com a tentativa de evitar um êxodo em massa de palestinos de Gaza. O chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths, diz que as autoridades egípcias temem um grande fluxo de moradores de Gaza —pelos quais seriam então responsáveis, por um período indefinido.
Além disso, o Egito não quer desempenhar qualquer papel no que poderia equivaler a uma reinstalação permanente de centenas de milhares de palestinos de Gaza. O país parece preparado para permitir a saída de estrangeiros e palestinos com dupla nacionalidade, mas quer que isso dependa da permissão da entrada de ajuda humanitária em Gaza.
Outro obstáculo é que Israel parece querer praticamente o oposto —permitir a saída de mais palestinos do que o Egito está preparado para aceitar, limitando ao mesmo tempo a quantidade de ajuda que pode entrar. O ministro das Relações Exteriores egípcio, Sameh Shoukry, disse que o governo israelense ainda não adotou uma posição que permita a abertura da passagem.
Os esforços diplomáticos têm sido intensificados para tentar resolver o impasse, à medida que as agências humanitárias alertam que a situação em Gaza está cada vez mais próxima de uma catástrofe humanitária.
Este texto foi originalmente publicado aqui.