O líder esquerdista Robert Fico foi indicado nesta quarta (25) como o novo primeiro-ministro da Eslováquia. É o político mais abertamente crítico do apoio do Ocidente a Kiev na Guerra da Ucrânia a comandar um governo de um país da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, desde que Vladimir Putin invadiu o vizinho.
Esta é a quarta vez que Fico, 59, assume o cargo no pequeno país de 5,7 milhões de habitantes no Leste Europeu. Ele foi empossado pela presidente Zuzana Caputova. Seu partido, o Smer (Direção), venceu a eleição legislativa de 30 de setembro, mas teve de negociar desde então para formar maioria no Parlamento por ter obtido 42 cadeiras —76 são necessárias para governar.
Ele chegou a 79 deputados angariando o apoio o terceiro colocado na disputa, o centro-esquerdista Hlas (Voz, 27 cadeiras) e o lanterna da disputa, o nacionalista SNS (Partido Nacional Eslovaco, com 10). A oposição será comandada pelo liberal e pró-europeu PS.
Ao longo da campanha, Fico esposou posições pró-Rússia, criticando as sanções econômicas a Moscou devido à guerra e o apoio de seu país aos ucranianos —que, envolvendo o envio de caças e sistemas antiaéreos, chegou de 24 de fevereiro de 2022, data da invasão, até 31 de julho a 1,3% do seu Produto Interno Bruto.
Mas campanha é campanha. Para entrar na coalizão, o Hlas colocou como condição que não houvesse alterações profundas na política externa eslovaca, em outras palavras, que o apoio a Kiev continuasse. O quanto disso era retórico será conhecido na prática de governo agora.
De toda forma, o Leste Europeu ganha mais uma voz contrária ao alinhamento automático à Ucrânia. O papel era reservado ao húngaro Viktor Orbán, que é próximo de Putin e foi duramente criticado por encontrar-se pessoalmente com o presidente russo durante reunião promovida pela China com os integrantes de sua Iniciativa Cinturão e Rota, na semana passada.
Por outro lado, o temor de que a principal potência regional, a Polônia, se afastasse ainda mais de Kiev pode estar com os dias contados.
Apesar de o partido ora no poder, o nacionalista PiS (Lei e Justiça), ter ganho a maior quantidade de votos na eleição parlamentar do dia 15 passado, a vitória não foi suficiente para a formação de uma maioria. Os únicos candidatos a integrar uma coalizão, os radicais de direita da Confederação, não ganharam cadeiras suficientes para viabilizar a permanência do PiS.
Assim, tudo indica que o KO (Coalizão Cívica), segundo colocado e que tem apoio de dois outros partidos, forme o novo governo. Mas isso não está dado, uma vez que o presidente Andrzej Duda, que é do PiS, não indicou ainda qual sigla terá a prerrogativa de tentar indicar o primeiro-ministro.
Antes da eleição, ele havia dito que daria a preferência ao vencedor nominal da eleição, no caso o seu PiS. Mas a virtual impossibilidade de o partido conseguir formar uma maioria tem levado à pressão para que ele dê a tarefa ao ex-premiê Donald Tusk, líder do KO.
Nesta quarta (25), Tusk disse em entrevista estar “moderadamente otimista” com a possibilidade, deixando no ar o temor de que o PiS tente alguma manobra de última hora —sua bem-sucedida campanha para dobrar o Judiciário local, amplamente condenada na Europa como um passo ao iliberalismo de Orbán e Putin, deixa a classe política com o pé atrás.
Na sua campanha, o PiS afastou-se do apoio entusiasmado à Ucrânia, de resto uma rival histórica. Preferiu concentrar-se no seu programa inaudito de rearmamento, que pretende gastar 4% do PIB com defesa só neste ano e tornar a Polônia a maior força da Otan na Europa continental. O premiê atual, Mateusz Marowiecki, chegou a anunciar que não mais enviaria armas a Kiev.
Com dificuldades em campo devido a uma ofensiva russa que está drenando os recursos finais de sua tentativa de reação à invasão neste ano, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, também colhe notícias mistas entre seus vizinhos.
Para piorar, a guerra entre Israel e o Hamas desviou totalmente a atenção dos EUA, seu principal fiador e que já tinha dificuldades para aprovar novos financiamentos militares devido à oposição dos republicanos, de olho na campanha eleitoral pela Casa Branca em 2024.