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Político alemão será pai, não usa licença e gera polêmica – 13/12/2024 – Mundo

Para a Alemanha, um país a poucos meses de uma eleição nacional, com uma situação de política externa volátil após a eleição de Donald Trump e uma guerra em curso no próprio continente, era de se imaginar que uma declaração polêmica de uma figura política capaz de gerar discussões na imprensa e nas redes estivesse relacionada a algum desses temas —e não aos planos para o nascimento de um filho.

Mas o anúncio do presidente do Partido Liberal, Christian Lindner, de que não pretende tirar licença paternidade quando sua esposa, Franca Lehfeldt, der à luz nos próximos meses movimentou opiniões. De um lado, há quem enxergou pouco caso do político com a divisão justa de tarefas entre pais e mães; de outro, quem viu tempestade em copo d’água da imprensa. Para apoiadores de Lindner, trata-se da atitude abnegada de um servidor público.

“Essa não é uma possibilidade no meu trabalho”, disse Lindner em entrevista ao falar sobre o tema. O político pontuou que “a família é a coisa mais importante, e é minha prioridade”, dizendo que vai se planejar para ter algum tempo livre.

Em resposta à fala, a Stern, uma revista importante do país, publicou um artigo de opinião nesta sexta-feira (13) no qual o autor acusa Lindner, 45, de dar um mau exemplo para a nação. Com o título: “Christian Lindner não sabe o que é uma paternidade igualitária”, o escritor e influenciador sobre paternidade Sebastian Tigges disse que o político liberal propaga a ideia antiquada de que só homens sem emprego fixo têm tempo de cuidar das crianças. “Não é só bobagem, é reacionário”, escreveu.

Já uma reportagem no jornal diário Zeit Online entrevistou uma terapeuta de casais que viu na atitude de Lindner, um empresário com um patrimônio estimado de € 5,5 milhões, um reflexo da percepção da sociedade alemã sobre o papel do homem na criação dos filhos. “Quando ele traz o dinheiro para casa, está liberado de quaisquer obrigações”, mesmo quando a mulher também trabalha e é obrigada a se afastar, disse Tara Christopeit.

Outras vozes na imprensa e nas redes lamentaram ainda uma oportunidade perdida: Lindner poderia ter enviado um sinal de que até mesmo políticos no topo da carreira podem compartilhar as tarefas da casa. “O fato de que Lindner parece achar que que não é responsável pelo cuidado com o recém-nascido, ou pensar que é indispensável no trabalho, é um reflexo direto da nossa sociedade”, disse a médica obstetra Mandy Mangler ao jornal Tagesspiegel.

Apoiadores de Lindner, por outro lado, apoiaram o político nas redes sociais. “A lei alemã não prevê licença paternidade para membros do Parlamento. Portanto, o anúncio não tem nada de mais”, disse um usuário em resposta ao artigo do Zeit.

A esposa de Lindner, Franca Lehfeldt, 35, também é uma bem-sucedida empresária e provavelmente não sentirá no bolso o período em que ficará afastada do trabalho. Mas a imensa maioria das alemãs precisa lidar com o fato de que a Alemanha é um dos países com a menor licença maternidade na União Europeia: mães têm direito a 14 semanas de afastamento, divididas em seis semanas antes e oito depois do parto.

Países como França, Itália, Espanha, Polônia e Irlanda têm períodos que vão de 16 a até 26 semanas, de acordo com dados do Parlamento Europeu. No Brasil, a licença maternidade é de 120 dias, ou cerca de 17 semanas.

Já a licença paternidade na Alemanha é de no mínimo duas semanas, em linha com a média da UE. Por outro lado, casais alemães têm direito a até 14 meses de auxílio financeiro que cobre 60% do salário (com um teto de € 1800, ou R$ 11 mil) caso desejem ficar mais tempo afastados do trabalho.

A polêmica sobre a licença paternidade não ajuda o esforço de Lindner nesse momento de evitar que seu partido fique de fora do Parlamento. Com eleições gerais previstas para fevereiro, o político enfrenta a possibilidade de que o Partido Liberal (FDP, na sigla em alemão), que nunca teve amplo apoio no país, caia para menos de 5% dos votos e não ultrapasse a cláusula de barreira para entrar no Bundestag.

O FDP foi o pivô da crise política que derrubou o governo de Olaf Scholz e adiantou as eleições. Uma reportagem investigativa do Zeit revelou que o partido, sob o comando de Lindner, agiu para minar a capacidade da coalizão governista de permanecer no poder e preparou uma estratégia para precipitar o colapso do governo e tentar sair na frente em uma eventual corrida eleitoral.

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Fonte: Folha de São Paulo

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