Yocheved Lifschitz, de 85 anos, é uma das duas reféns que foram libertadas pelo Hamas na noite desta segunda-feira (23).
“Passei pelo inferno, algo que eu nunca poderia esperar”, disse, ao descrever como foi sequestrada por homens armados do grupo em motocicletas, no dia 7 de outubro.
Ela está internada num hospital em Tel Aviv, em Israel, onde participou de uma entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (24).
Lifschitz diz que foi levada à Faixa de Gaza por meio de um portão, em uma viagem que provocou alguns hematomas. Ela também diz que estava com dificuldades para respirar.
O governo isralense, afirma ela, gastou muito dinheiro na cerca que separa a fronteira entre o país e o território palestino —mas fez pouco para impedir a passagem do Hamas.
Ao lado de Nurit Cooper, Lifschitz foi uma das duas mulheres libertadas nesta segunda pelo Hamas —a terceira e a quarta reféns a serem libertadas desde que mais de 200 pessoas foram sequestradas em Israel e levadas para Gaza. Duas israelenses-americanas —a mãe e a filha Judith e Natalie Raanan— foram soltas na sexta-feira (20).
Sharone, filha de Yocheved Lifschitz, ajudou a mãe a contar os detalhes do que viveu nas últimas semanas.
Ela confirma que a mãe foi levada de motocicleta e, ao explicar sobre os hematomas, diz que ela foi atingida por bastões. Após o sequestro, Lifschitz foi então forçada a caminhar alguns quilômetros em solo molhado, detalhou a filha.
Sharone disse que os sequestradores de sua mãe tiraram o relógio e as joias dela enquanto a levavam. Quando ela desceu da moto, as pessoas que a recepcionaram lhe disseram que acreditavam no Alcorão e que, portanto, não iriam machucá-la.
Lifschitz e outras 24 pessoas foram levadas para uma rede de túneis. Sharone descreveu uma “enorme rede” de túneis subterrâneos administrados pelo Hamas, que ela compara a uma “teia de aranha”. Sua mãe detalhou que o local tem um “solo macio e úmido”.
Lifschitz diz que, depois de duas ou três horas, eles separaram cinco pessoas que viviam no kibutz Nir Oz em uma sala separada. Lá havia guardas, um paramédico e um médico, e o cativeiro era limpo.
Os reféns dormiam em colchões no chão dos túneis sob Gaza, com um médico vindo visitá-los a cada dois ou três dias. Um prisioneiro que ficou gravemente ferido num acidente de moto a caminho de Gaza, por exemplo, teve os ferimentos tratados, e um paramédico veio vê-los para trazer os medicamentos de que precisavam.
Lifschitz ainda detalhou que havia um guarda para cada uma das cinco pessoas mantidas como reféns no grupo dela.
Segundo o relato dela, os sequestradores “cuidaram de cada detalhe” —inclusive com o auxílio de mulheres que conheciam a “higiene feminina”.
O grupo recebeu queijo e pepino para comer, segundo Lifschitz, a mesma comida que os combatentes do Hamas comiam, acrescentou a filha, Sharone.
A filha de Lifschitz mora em Londres e chegou a Tel Aviv esta manhã. Referindo-se aos outros reféns feitos pelo Hamas, ela diz que a sua mãe sente que “a história não acabará até que todos voltem” para casa.
O Ministério da Saúde gerido pelo Hamas em Gaza afirma que 5 mil pessoas foram mortas no território palestino desde 7 de Outubro. Mais de 1.400 foram mortos nos ataques do Hamas a Israel.