O papa Francisco se desculpou, nesta terça-feira (28), por ter falado, em uma reunião a portas fechadas com bispos italianos, que os seminários estão “cheios de viadagem”, como revelado pela imprensa do país nesta segunda (27).
“O papa nunca teve a intenção de ofender ou se expressar em termos homofóbicos, e ele pede desculpas àqueles que se sentiram ofendidos pelo uso de um termo relatado por outros”, disse o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, em um comunicado por email.
Segundo a mídia italiana, o pontífice usou o termo italiano “frociaggine”, que se traduz como “viadagem” ou “afetação”, ao falar que permanecia contrário à admissão de pessoas gays no sacerdócio a membros da Conferência Episcopal Italiana, entidade equivalente à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O site italiano Dagospia foi o primeiro a relatar o incidente, que teria ocorrido em 20 de maio. A notícia foi publicada em seguida pelos dois principais jornais do país, o La Repubblica e o Corriere della Sera.
Bruni disse que Francisco estava “ciente” dos relatos e reiterou que o papa permanecia comprometido com uma Igreja acolhedora para todos, onde “ninguém é inútil, ninguém é supérfluo, [onde] há lugar para todos”.
Desde que foi eleito papa pelo colégio cardinalício, em 2013, Francisco, 87 orientou a Igreja a uma postura mais acolhedora com fiéis LGBTQIA+. Naquele ano, por exemplo, ao voltar de uma viagem do Brasil, o líder religioso disse uma frase que é rememorada até hoje: “Se uma pessoa é gay e busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?”.
Dez anos depois, em janeiro de 2023, ele disse que a homossexualidade não é crime ao ser questionado, em uma entrevista à agência Associated Press, sobre leis que criminalizam a orientação sexual pelo mundo. “Ser homossexual não é crime”, disse ele. “Não é crime. Sim, mas é um pecado. Tudo bem, mas primeiro vamos distinguir um pecado de um crime. Também é pecado não ter caridade com o próximo.”
Na entrevista, Francisco reconheceu que lideranças católicas em algumas partes do mundo ainda apoiam leis que criminalizam a homossexualidade ou discriminam a comunidade LGBTQIA+. “Esses bispos precisam ter um processo de conversão”, afirmou o pontífice, acrescentando que tais lideranças devem agir com ternura —”por favor, como Deus tem por cada um de nós”.
No final do ano passado, ele tomou a medida mais significativa nesse campo ao autorizar a bênção a casais do mesmo sexo e àqueles considerados “em situação irregular”, termo usado para se referir aos que estão em sua segunda união após um divórcio.
O texto determinava que a bênção litúrgica aos casais homoafetivos em nada deve se assemelhar ao casamento. “Essa bênção nunca será realizada ao mesmo tempo que ritos civis de união, nem em conexão com eles, para não produzir confusão com a bênção do sacramento do matrimônio”, dizia um trecho.