No sul da Faixa de Gaza, onde dezenas de milhares de palestinos estão refugiados, Esam enfrenta um dilema diário —tomar banho ou poupar água para beber. “É um problema”, diz o jovem de 23 anos, que preferiu não divulgar seu sobrenome.
Os palestinos esperam por dias e encaram grandes filas para conseguir tomar banho desde que Israel cortou a água, a eletricidade e os alimentos no território habitado por 2,2 milhões de pessoas como represália pelos ataques do grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro.
Esam conta que recebeu em sua casa, em Khan Yunis, moradores da Cidade de Gaza que fugiram dos bombardeios de Israel no norte. “Todos os dias pensamos em como economizar. Se você toma banho, não bebe água”, diz o anfitrião.
Ahmed Hamid, 43, sofre o mesmo. Pai de sete filhos, ele se refugiou em Rafah com a sua família por alguns dias depois que Israel deu um ultimato para mais de 1 milhão de pessoas fugirem para o sul. “Não tomamos banho há dias, e até para ir ao banheiro temos que fazer fila”, conta. Ele afirma que comida está em falta e os preços dos poucos alimentos disponíveis dispararam.
Jornalistas da agência de notícias da AFP dizem que ver milhares de pessoas dormindo nas estradas, em jardins de hospitais e em escolas administradas pela agência da ONU para refugiados palestinos, a UNRWA, já se tornou um cenário comum nas cidades de Rafah e Khan Yunis.
“Me sinto humilhada e envergonhada. Não temos muitas roupas, a maioria delas está suja e não há água para lavá-las. Não há eletricidade, nem água, nem internet. Sinto que estou perdendo minha humanidade”, diz Mona Abdel Hamid, que se refugiou com familiares em Rafah.
Embora dezenas de milhares de pessoas tenham fugido para o sul do território, a Força Aérea de Israel continua atacando a região, que foi bombardeada no domingo (15), por exemplo.
“Vejam a destruição em massa. Eles dizem que aqui há terrorismo”, gritou Alaa al-Hams, mostrando os escombros de um bairro atacado em Rafah. “Onde está a humanidade de que falam? Onde estão os direitos humanos? Aqui são todos civis, não estão ligados a nenhum grupo, mas morreram. Estão todos mortos.”
Entre as ruínas de sua casa na mesma região, Samira Hassab se questiona sobre o que fazer diante da situação. “Para onde vamos? Onde estão os países árabes? Passamos a vida na diáspora. A nossa casa, onde viviam todos os meus filhos, foi bombardeada. Dormimos na rua e não temos mais nada”, diz a mulher, que tem uma filha com câncer que não pode levar ao hospital por causa dos ataques.
Desde o ataque inédito do Hamas, que segundo as autoridades deixou mais de 1.400 mortos, Israel promoveu um “cerco total” à Faixa de Gaza, onde os bombardeios israelenses mataram 2.750 pessoas, de acordo com representantes locais.
No domingo, Tel Aviv indicou que restauraria o abastecimento de água no sul do território palestino. Embora o serviço tenha sido normalizado no município de Bani Suheila, não se sabe se o mesmo ocorreu em outras localidades da região.