O pai de um menino de 11 anos, morto quando a minivan de um imigrante colidiu com um ônibus escolar no estado de Ohio, criticou o ex-presidente Donald Trump e seu companheiro de chapa, o senador J.D. Vance. Uma hora antes do debate presidencial, na terça-feira (10), ele os chamou de políticos “moralmente falidos”, que espalham ódio às custas de seu filho, Aiden.
Falando durante um comentário público em uma reunião regular da Comissão da Cidade de Springfield, o pai, Nathan Clark, afirmou: “Isso precisa parar agora.”
A morte de Aiden Clark há pouco mais de um ano —ele foi arremessado do ônibus em que estava depois que o motorista da minivan, um haitiano, desviou para a pista contrária— abalou os moradores de Springfield, cidade operária entre Dayton e Columbus. E desencadeou uma onda de retórica raivosa sobre os milhares de imigrantes do Haiti que se estabeleceram na área desde a pandemia.
Mas não era assim, até que em julho Vance lançou a cidade de cerca de 170 mil habitantes no acirrado debate nacional sobre imigração.
Desde então, Vance tem destacado o fluxo de haitianos para Springfield como uma consequência prejudicial das políticas de fronteira do governo de Joe Biden. Os imigrantes estão no país legalmente com autorização para trabalhar e se mudaram para a área de Springfield para preencher empregos na indústria manufatureira e em outras indústrias.
Nesta semana, Vance reforçou seu discurso, repetindo afirmações caluniosas de que pessoas “que não deveriam estar neste país” estavam sequestrando e comendo os animais de estimação de seus vizinhos em Springfield. Trump amplificou os rumores infundados, mesmo depois que as autoridades os desmentiram.
Na segunda-feira (9), a campanha de Trump postou nas redes sociais sobre Aiden, incluindo sua foto e a de Hermanio Joseph, o imigrante haitiano que atingiu o ônibus.
Então, na terça, Vance mencionou Aiden em uma postagem na plataforma social X, dizendo que “uma criança foi assassinada por um migrante haitiano.”
Ao lado de sua esposa, Danielle, Clark abriu seu discurso de três minutos dizendo que desejava que seu filho tivesse sido morto por um homem branco de 60 anos, se ao menos a família tivesse sido poupada do bombardeio de “pessoas que vomitam ódio.”
“Meu filho não foi assassinado”, disse ele. “Ele foi acidentalmente morto por um imigrante do Haiti.”
“Essa tragédia é sentida por toda esta comunidade, pelo estado e até pela nação, mas não transforme isso em ódio”, disse em seus comentários na reunião da comissão, que foi transmitida ao vivo.
Autoridades da cidade disseram que milhares de haitianos se estabeleceram em Springfield. Fugindo de um dos países mais problemáticos do mundo, eles ajudaram a revitalizar a cidade, cuja população vinha diminuindo nas últimas décadas. Mas a velocidade e o volume de chegadas têm pressionado a habitação, as escolas e os serviços de saúde.
Desde a morte de Aiden em agosto de 2023, os moradores têm lotado as reuniões da Comissão da Cidade para expressar queixas sobre os imigrantes.
Mas essa situação se intensificou nos últimos meses, com os presentes frequentemente fazendo comentários racistas sobre os haitianos, como o de que eles têm baixo QI. Alguns críticos também insinuaram que os imigrantes trouxeram doenças e crimes para a cidade, o que autoridades de saúde e a polícia negaram.
Mais de 20 estudantes também ficaram feridos quando a minivan de Joseph atingiu o ônibus escolar a caminho da escola no ano passado. Ele portava uma carteira de motorista que não era válida em Ohio. As autoridades não encontraram evidências de que ele havia consumido álcool ou drogas. Em maio, Joseph, 36, foi condenado por homicídio culposo e pode cumprir até nove anos de prisão.
Na noite de terça, Clark, um professor, citou quatro políticos que descreveu como “moralmente falidos” por usarem Aiden para promover seus interesses —Trump; Vance; Bernie Moreno, o candidato republicano de Ohio para o Senado; e o deputado republicano Chip Roy, do Texas.
“Eles falaram no nome do meu filho e usaram sua morte para ganho político”, disse ele do pódio.
“Eles podem vomitar todo o ódio que quiserem sobre imigrantes ilegais, a crise na fronteira e até acusações falsas de que animais de estimação fofos estão sendo devorados e comidos por membros da comunidade”, disse Clark. “Mas eles não têm permissão, nem nunca tiveram permissão para mencionar Aiden Clark de Springfield, Ohio”, continuou.
Em um comunicado enviado ao The New York Times em resposta às críticas de Clark, Luke Schroeder, porta-voz de Vance, culpou a vice-presidente Kamala Harris pelas políticas de fronteira da administração e disse que a família Clark estava nas orações de Vance.
Clark disse que Aiden estudava diferentes culturas e aceitava a todos. Como seu pai, ele se comprometeu a honrar a memória de seu filho nesse espírito, disse ele. “Claro, temos nossos problemas aqui em Springfield e nos EUA”, disse ele. “Mas Aiden Clark tem algo a ver com isso?”
Danielle Clark, que também é professora, desdobrou uma camiseta vermelha estampada com #VivaComoAiden nas costas e a segurou para a plateia, que respondeu com aplausos. Em seguida, o casal saiu das câmaras.