Eu não sabia que existia um lado tão lixo em mim até cruzar com Pablo Marçal no debate dos candidatos à Prefeitura de São Paulo. Ele foi o catalisador de algo que eu desconhecia: um voyeurismo atávico, um impulso vil que, depois de acionado, ficou impossível de conter. Os sons ululantes de “Pablitos”, “Boules” e “Bananinhas” não revelam apenas meu lado sombrio; eles o alimentam, glorificam e transformam em espetáculo. Ave Caesar, morituri te salutant. Aos leões, aos leões!
Antes, eu me importava com ideias. Tinha um interesse genuíno pelas questões que realmente importam: educação, saúde, justiça social. Preocupava-me com as propostas concretas que poderiam melhorar a vida de milhões. Mas agora? Agora, graças ao que Marçal desperta, tudo isso parece distante, irrelevante. O que me move é o insulto, o enxovalho. As discussões profundas perderam toda a cor, todo o brilho. Agora, o que me fascina é o grotesco, o avilte.
Pablo Marçal me faz querer desprezar debates sérios. Não me importo mais com a crise na educação ou com políticas públicas destinadas a aumentar o número de escolas ou melhorar os salários dos professores. Em vez disso, o que meu lado lixo deseja é ver alguém ser ridicularizado, humilhado, arrastado na lama. O espetáculo da degradação virou meu riso nos dentes, tornou-se a nova atração, o novo vício. Que se repete em todas as esferas da vida em sociedade.
Não quero saber de nenhuma política pública que possa diminuir a desigualdade. Não quero ouvir soluções para a crise climática ou propostas para reformar o sistema de saúde. O que me fascina é o escândalo, o colapso, o ultraje. É o lado lixo que grita mais alto, e Marçal sabe exatamente como puxar por ele.
Essa obsessão pela degradação, pelo que é pequeno e mesquinho, revela-se em mim em todas as áreas da nossa sociedade: na política, na cultura, na economia. O verbo que mais me seduz agora é ultrajar. O que antes era preocupação com o progresso, com a construção de algo melhor, deu lugar ao desejo pela ruína. Marçal revelou esse lado em mim, mas a verdade é que ele sempre esteve lá, esperando para ser explorado.
Ao final, ficam as perguntas incômodas: Pablo Marçal criou esse lado lixo ou ele apenas o trouxe à tona? E o que isso diz, tanto sobre mim quanto sobre a sociedade em que habitamos? Se o lixo é o que mais brilha, talvez seja hora de repensar nossas prioridades. O que consumimos e o que permitimos que nos transforme. Porque, no fundo, esse lado lixo não é só meu. É de todos nós.
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