Uma reunião dos três candidatos de oposição em Taiwan, na véspera de acabar o prazo de inscrição para a eleição presidencial de 13 de janeiro, terminou no início da noite de quinta (23), em Taipé, ainda sem acordo. Eles discutiram por mais de uma hora, publicamente.
Os dois nomes principais, Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT) ou Partido Nacionalista da China, e Ko Wen-je, do Partido do Povo de Taiwan (TPP), negociam desde outubro uma chapa única. Desta vez, incluíram no encontro o independente Terry Gou, fundador da gigante de tecnologia Foxconn.
Hou, prefeito de Nova Taipé, e Ko, ex-prefeito de Taipé, a capital, anunciaram há mais de uma semana que haviam chegado a um acerto, faltando só definir quem seria cabeça de chapa. Mas as reuniões realizadas desde então só fizeram aprofundar acusações de parte a parte.
O porta-voz do KMT, após o partido deixar a reunião, afirmou que seus representantes foram “desrespeitados”, por terem esperado os demais por 20 minutos diante da plateia com jornalistas. Mas repetiu não ter desistido da negociação. Hou e Ko divergem sobre os critérios para avaliar as pesquisas escolhidas para indicar aquele que teria mais chances.
O líder na corrida é o vice-presidente taiwanês, Lai Ching-te, candidato do Partido Democrático Progressista (PDP), no poder há quase oito anos. O que mais diferencia governo e oposição é a postura adotada em relação à China e, paralelamente, aos Estados Unidos.
Na campanha deste ano, Lai buscou se distanciar da afirmação que fez em 2017, de ser um “trabalhador pragmático pela independência de Taiwan”. Agora, diz que “independência hoje se refere ao consenso geral em Taiwan de que não faz parte da República Popular da China. Já é um país independente chamado República da China”. Esse é o nome oficial da ilha.
Hou, do KMT, tem priorizado temas locais e tratado pouco das relações com Pequim. Diz que retomaria os contatos e há dois meses, na revista americana Foreign Affairs, escreveu que apoia o Consenso de 1992 entre Pequim e Taipé, sobre a existência de “uma China” —o que Lai rejeita.
Ko, por sua vez, também ala em reativar contatos e até em negociar um acordo comercial, mas tem cobrado que Pequim esclareça sua visão sobre “uma China”, se econômica ou também política. “Eu vou dizer a Pequim que nós partilhamos a mesma história, língua, religião e cultura, mas politicamente, neste momento, não há nada que possamos fazer”, disse.
‘Guerra não é opção’
Também nesta quinta, em Taipé, a recém-anunciada candidata a vice de Lai na chapa governista, Hsiao Bi-khim, comentou em entrevista coletiva o que o líder chinês, Xi Jinping, teria afirmado para Joe Biden sobre Taiwan, uma semana atrás, na cúpula de San Francisco.
Xi, segundo uma autoridade anônima dos EUA, falou ter visto o noticiário americano sobre a China planejar ação militar na ilha em 2027 ou 2035, e que esse plano não existe. Também listou condições em que a ação ocorreria, mas elas não foram relatadas.
Questionada se confia na afirmação atribuída a Xi, Hsiao repetiu a expressão usada por Biden, ao responder à mesma pergunta em San Francisco: “Confie, mas verifique”. Ela chefiava o escritório de Taiwan em Washington até o fim de semana. “Guerra não é uma opção”, declarou.
O Ministério da Defesa taiwanês afirmou ter registrado a presença de 25 aviões e oito embarcações militares chinesas ao redor da ilha, entre quarta e quinta.
Na terça (21), segundo a Força Aérea Filipina, dois caças do país se uniram a aviões americanos para iniciar operações conjuntas no arquipélago de Batanes, a 190 quilômetros de Taiwan. O Exército chinês criticou as Filipinas por convocarem “forças estrangeiras” para patrulhar o Mar do Sul da China.