spot_img
HomeMundoOpinião: Institutos de pesquisa não se comparam com bets - 21/11/2024 -...

Opinião: Institutos de pesquisa não se comparam com bets – 21/11/2024 – Mundo

Em sua coluna nesta Folha, do dia 10 de novembro, Ronaldo Lemos afirma que a plataforma de apostas Polymarket humilhou os institutos de pesquisa dos Estados Unidos. Tal comparação, no entanto, não é adequada por diversos motivos. O principal deles é que a maioria dos institutos, apesar de procurarem retratar o eleitorado e suas tendências da forma mais fidedigna possível, não se propõem a prever os resultados das urnas.

Uma comparação mais justa seria com agregadores de pesquisas, como FiveThirtyEight ou Silver Bulletin, que de fato desenvolvem modelos para prever, por meio de probabilidades, os resultados das eleições —usando não apenas dados de pesquisas, mas também outras fontes de informação, como indicadores econômicos e políticos, os chamados fundamentals.

Nesse sentido, suas previsões finais, divulgadas na manhã da eleição, eram essencialmente as mesmas que as das plataformas de apostas: FiveThirtyEight e Silver Bulletin apresentavam um cenário de 50/50, enquanto a Polymarket dava 56% de probabilidade de vitória ao candidato republicano Donald Trump.

Outro motivo pelo qual essa comparação entre plataformas de apostas e institutos não faz sentido é que muitos dos apostadores dessas plataformas, assim como os agregadores de pesquisa, utilizam como fonte primária as próprias pesquisas eleitorais. Inclusive, eles parecem ser extremamente voláteis a elas, principalmente se comparados aos agregadores.

Veja, por exemplo, o impacto da pesquisa da Selzer em Iowa publicada no dia 2 de novembro, a três dias do pleito. A probabilidade de vitória de Trump no Polymarket despencou de 94,5% para 80% momentos após a publicação, até aumentar para 88,5% na manhã da eleição. Enquanto isso, no FiveThirtyEight, a probabilidade foi de 96% para 93% no mesmo período, chegando no dia da eleição nos mesmos 93%.

Com o perdão do trocadilho, aposto que os usuários dessas plataformas não gostariam que as pesquisas deixassem de ser feitas por não cumprirem um papel que nem almejam alcançar: o de prever as eleições. Sem elas, só lhes restariam os fundamentals, informações anedóticas e suas vibes, por assim dizer.

Diferentemente de plataformas de apostas, as pesquisas são embasadas em métodos que nos permitem não só quantificar a precisão de suas estimativas, mas também entender suas limitações.

Por exemplo, apesar de terem obtido um desempenho melhor neste ciclo eleitoral do que nos dois anteriores, as sondagens parecem ter novamente subestimado o apoio a Trump. Justamente em razão de seus métodos, é possível avaliar empiricamente os possíveis motivos para isso ter ocorrido e propor aprimoramentos. Aliás, é exatamente isso que a Associação Americana para Pesquisa de Opinião Pública (Aapor) faz ao final de todo ciclo eleitoral, trabalho este que já está em andamento para este ano.

Por fim, vale lembrar que o papel dos institutos vai muito além das eleições. Eles conduzem diversos outros tipos de pesquisa, entre elas, as de opinião pública. Ainda que imperfeitas, são uma das ferramentas mais importantes para dar voz à população e, com isso, manter uma democracia saudável. Reduzi-las a meras previsões eleitorais, que nem é o que se propõem a fazer, é um desserviço para com elas e para com a própria opinião pública.

Fonte: Folha de São Paulo

RELATED ARTICLES

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Advertisment -spot_img

Outras Notícias