Na semana passada, falamos sobre as principais tendências para a China no cenário doméstico. Já nesta nossa última coluna do ano, destacaremos o que é possível esperar para o engajamento do país asiático no cenário internacional de 2025.
A primeira e mais óbvia questão a vir à mente de todo mundo é o desafio de Pequim em relação ao novo governo Donald Trump. O republicano será linha-dura na questão comercial mas, surpreendentemente, tem se mostrado mais amigável com a China em suas declarações recentes.
Nesta semana, Trump disse que os Estados Unidos e a China podem juntos resolver a maioria dos problemas do mundo e chamou Xi Jinping de “um cara incrível”.
O tom pode trazer algum alívio a quem teme um conflito bélico entre as duas potências, mas sozinhas terão pouco efeito. A despeito do que espera o republicano, o Congresso dos EUA já tem opinião formada sobre Pequim, e será difícil aprovar qualquer tentativa de aproximação que exija colaboração legislativa.
EUA e China devem continuar em rota de colisão, sobretudo em áreas estratégicas como desenvolvimento tecnológico e acesso a minerais críticos, e Washington seguirá a toada de retaliações econômicas. Além disso, Trump escolheu Michael Waltz, um conhecido crítico da China, para ser o seu conselheiro de Segurança Nacional, e terá Marco Rubio como secretário de Estado.
Rubio, aliás, será o primeiro hispânico a coordenar o Departamento de Estado. Cubano-americano, ele é um profundo conhecedor da América Latina e tem se dedicado nos últimos anos a conter a influência chinesa na nossa região.
Logo no início do mandato de Lula, por exemplo, Rubio assinou um artigo de opinião em que pedia a Biden para responsabilizar o presidente brasileiro “por sua simpatia para com o Partido Comunista Chinês”. Ele também vinha batendo pesado no México por supostamente deixar que a China tirasse proveito do USMCA e parabenizou Javier Milei em janeiro, após a Argentina recusar o convite para se juntar aos Brics.
Até pela relação contenciosa, Pequim deve focar esforços em 2025 em tentar se mostrar estável para o Sul Global diante do governo errático de Trump. A retórica anti-China na América Latina deve se exacerbar no ano em que sediaremos a cúpula dos Brics e o relacionamento sino-brasileiro estará em alta.
Dentro da mesma estratégia, espera-se em 2025 uma atualização do acordo de livre comércio entre a China e os membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Além de ampliar laços econômicos e posicionar os chineses como líderes na exportação de tecnologias verdes na região, trata-se de uma clara tentativa de contrabalançar o poder americano por lá.
Nos últimos anos, Washington se aproximou da Coreia do Sul, do Japão e das Filipinas, em clara tentativa de cercar a China diplomática e militarmente. A Asean é como a China luta contra esse tipo de iniciativa.
Na Europa, o tom será ditado pelas disputas comerciais da União Europeia com a China e, majoritariamente, pelos posicionamentos de Pequim nas negociações pelo fim da Guerra da Ucrânia.
Trump já deu indícios de que pretende rifar Kiev para os russos, forçando Zelenski a comparecer à mesa de negociação. A China, que ao lado do Brasil tem tentado se posicionar como mediadora do conflito, pode trabalhar com Bruxelas para alcançar um acordo viável com Moscou, ou pode se alinhar integralmente com os interesses russos. Esta escolha terá efeitos por décadas, ditando como o continente reagirá aos chineses a partir daí.
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