O número de mortos causado pela passagem do ciclone Chido no arquipélago de Mayotte, no oceano Índico, permanece incerto até esta quarta-feira (18), embora o estado em que o território francês ficou, com favelas destruídas e áreas inacessíveis, aponte para uma tragédia.
Autoridades locais e profissionais de saúde disseram que centenas ou até milhares de pessoas podem ter morrido na pior tempestade que atingiu o arquipélago em 90 anos. No entanto, apenas 22 mortes registradas em hospitais foram confirmadas até agora.
“Não posso fornecer um número de mortos porque não sei. Receio que o saldo seja muito pesado”, disse o ministro do Interior interino francês, Bruno Retailleau, à emissora BFMTV nesta quarta. Ele foi o funcionário de mais alto escalão do governo a visitar a ilha após a tempestade, no fim de semana.
Alguns fatores dificultam um balanço mais preciso. Segundo autoridades locais, algumas vítimas foram enterradas imediatamente, de acordo com a tradição muçulmana, antes que suas mortes pudessem ser contabilizadas.
Além disso, há incerteza em relação ao tamanho exato da população de Mayotte. Enquanto as estatísticas oficiais indicam 321 mil habitantes, muitos acreditam que o número seja muito maior devido à imigração indocumentada, principalmente das ilhas vizinhas de Comores e Madagascar.
Pela manhã, moradores da capital do território, Mamoudzou, martelavam chapas de metal para cobrir telhados danificados das casas que resistiram à tempestade. Milhares de barracos mais frágeis em favelas da cidade foram completamente arrasados, deixando campos de terra e detritos.
Diante do cenário de destruição, a população cobra ações mais enérgicas do governo francês. Nizar Assani, que gerencia um negócio imobiliário na capital, cobrou o presidente Emmanuel Macron, que visitará o arquipélago na quinta (19). “Não precisamos de uma declaração de amor. Precisamos de gestos de amor”, disse ela à agência de notícias Reuters. “Precisamos ver que a França não abandonará Mayotte.”
Suprimentos têm chegado ao arquipélago por meio de uma ponte aérea de Réunion, outra ilha francesa do Oceano Índico. De acordo com autoridades locais, 120 toneladas de alimentos seriam distribuídas nesta quarta.
Parte dos moradores, porém, ainda luta para ter acesso a água potável e profissionais de saúde dizem estar se preparando para um aumento de doenças à medida que os corpos não resgatados se deterioram. O governo francês disse na terça à noite que não há surtos neste momento.
Há ainda preocupação com a segurança em meio ao caos. Segundo Retailleau, dois policiais ficaram feridos durante o toque de recolher noturno decretado na terça em resposta a relatos de saques e desordem. Mayotte é o território ultramarino mais pobre da França e tem enfrentado instabilidade nos últimos anos.
O número de mortos na África continental, onde a tempestade atingiu após passar por Mayotte, aumentou na quarta. De acordo com os balanços mais recentes, 45 morreram em Moçambique —eram 34 no dia anterior— e 13, no Maláui, ante sete anteriormente.
O Papa Francisco mencionou a tempestade durante sua audiência semanal no Vaticano, pedindo a Deus que “conceda descanso aos que perderam a vida, assistência necessária aos necessitados e conforto às famílias afetadas”.