Confirmado no Congresso, David Perdue foi oficialmente empossado por Donald Trump e assume a embaixada dos Estados Unidos na China em um momento de crescente tensão e com uma postura significativamente mais agressiva em relação a Pequim se comparado com os antecessores.
O escolhido de Joe Biden, Nicholas Burns, era diplomata de carreira e jocosamente apelidado em Washington de “embaixador do trem-bala”. Equilibrando-se em uma política externa definida pelos democratas como “competição e engajamento”, era ignorado pelas elites políticas chinesas e passava mais tempo viajando de um lado para o outro no modal. Conseguiu poucas concessões do país asiático e pouco fez para melhorar o relacionamento sino-americano.
Já Terry Branstad, o embaixador de Trump no seu primeiro mandato, esperava valer-se de sua relação de longa data com Xi Jinping para desescalar a retórica belicista da Casa Branca.
Natural de Iowa, ele costumava se referir ao líder chinês como “velho amigo”, e os dois se conheciam desde 1985, quando era governador e recebeu o jovem Xi para um programa de intercâmbio. Desde então, visitaram-se múltiplas vezes, e sua conexão garantiu mais acesso a Zhongnanhai —mas parou aí, diante das dificuldades estruturais trazidas pela verborragia trumpista e pela pandemia.
Perdue não carrega nenhuma destas credenciais. Não tem treinamento diplomático ou qualquer relação com a elite chinesa. Ao contrário, fez carreira como senador da Geórgia e ficou conhecido pela defesa árdua das principais críticas de Trump a Pequim. Considerado linha-dura e confrontativo, disse em mais de uma ocasião que considera a China um desafio existencial para os EUA e acusou os chineses de roubar propriedade intelectual americana para se desenvolverem.
São posicionamentos que refletem a postura protecionista do presidente republicano, que vê as práticas comerciais da China como desleais e prejudiciais para os interesses e segurança americanos. Também denotam uma abordagem mais direta e alinhada com a necessidade de reafirmar Washington como potência global, com um foco claro em pressionar a China por meio de tarifas e estratégias de defesa dos interesses econômicos.
Embora tenha se comprometido a lidar com violações de direitos humanos no Tibete e Hong Kong, como senador ele demonstrou pouco interesse por direitos civis, sugerindo que questões como o comércio e segurança terão prioridade. Sua visão é que a competição com a China deve ser encarada como um confronto estratégico e ideológico.
Caberá ao ex-congressista enfrentar o grande desafio de balancear sua postura pessoal agressiva com a necessidade de manter a estabilidade nas relações bilaterais. A política externa americana pode se tornar ainda mais polarizada e a intensificação das tensões pode afetar não apenas os EUA e a China, mas também as economias globais interligadas.
Pequim, por outro lado, tem demonstrado repetidamente que se preparou para um novo mandato de Trump e não se acanha mais em falar grosso. Será mais difícil convencer o Partido Comunista da necessidade de um acordo e, ao menos por ora, Xi conta com certa flexibilidade política (embora não econômica) para sustentar o impacto das tarifas impostas pelo republicano.
Para desespero de Washington, o líder chinês vem galvanizando o consenso mundial anti-EUA, ansioso por reparar as pontes que Trump unilateralmente ama explodir e trabalhando para consolidar Pequim como a capital do multilateralismo.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.